quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

A Sabedoria de Maria Santíssima. A fonte e os frutos da Sabedoria. As consequências de sua perda. O Resgate pela Graça.




Maria porém era não somente a Pura, a nova Eva, criada de novo para a alegria de Deus: era a super-Eva, a Obra-Prima do Altíssimo, a cheia de graça, a mãe do Verbo na mente de Deus.

 "O Verbo é a Fonte da Sabedoria" [...]. O Filho, então, não terá posto a sua sabedoria sobre os lábios da própria mãe?


            Este post trata da Sabedoria de Maria Santíssima desde a mais tenra idade. E, necessariamente, trata da fonte de toda a Sabedoria.
             Primeiramente, transcrevemos diálogo entre a pequenina Maria e sua mãe, Sant’Ana, impressionada com a sabedoria da Filha. Depois, seguem reproduzidos alguns trechos da obra de Maria Valtorta onde Jesus explica as razões de tamanha luz, as razões da Sabedoria, seus frutos, e os frutos da perda da graça, “que se repercutem como nocivas sobre o físico e sobre a mente”.
[...] mas o Meu sacrifício reintegra o homem, e abre para vós os fulgores da Inteligência, os seus canais, a sua ciência. Oh! Que sublimidade tem a mente humana, unida a Deus pela Graça, participando da Sua capacidade de conhecer!... A mente humana unida a Deus pela Graça.
            As páginas do volume 1, de onde os trechos foram extraídos, e os correspondentes tópicos anotados entre parêntesis, seguem indicados em cada trecho.
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47 (7.3)
[Sant’Ana] - Meu bem, como sabes estas coisas santas? Quem é que as diz a ti? O teu pai?
            [Maria Ss.] – Não. Não sei quem é. Parece que eu as soube desde sempre. Mas talvez seja alguém que eu não vejo, e que as diz a mim, talvez um dos Anjos que Deus manda vir falar aos homens que são bons. [...]
            58 (8.7)
            [Jesus] Em sua humildade, [Maria] não sabia que a possuía [a Sabedoria] desde antes de nascer, e que sua união com a Sabedoria não era outra coisa, senão a continuação das divinas palpitações do Paraíso.
            74/74 (11.4-11.5)
            [Maria] - Se olho para trás, vejo-me consagrada já ao Senhor. Não posso lembrar-me da hora em que nasci, nem de como foi que comecei a amar a minha mãe e a dizer a meu pai: “Meu pai, eu sou tua filha”... Mas eu me lembro, ainda que não saiba quando começou, de ter dado a Deus o meu coração. [...] Quando foi? Não sei. Do lado de lá da vida, eu diria, porque sinto que sempre o tive, e que Ele sempre me teve, e que eu existo porque Ele me quis para a alegria do seu Espírito e do meu...
            [Maria, ainda pequena, diz que se manterá virgem e se consagrará a Deus – 48/52 (7.4)]
            [Maria Ss.] - Então, eu rezarei e me farei virgem para isso [para esperar o Messias].
            [Sant’Ana] - Mas, sabes o que significa o que estás dizendo?
            [Maria Ss.] - Quer dizer não conhecer o amor de homem, mas só o de Deus. Quer dizer não ter outro pensamento, senão no Senhor. Quer dizer permanecer menina na carne, e anjo no coração. Quer dizer não ter olhos para outra coisa, mas só para olhar a Deus, ouvidos só para ouvi-lo, boca para louvá-lo, mãos para oferecer-lhe hóstias, pés velozes para segui-lo, coração e vida para doar a Ele.
             [Sant’Ana] – Bendita és tu! Mas, então, não terás filhos, tu, que gostas tanto das crianças [...]
            [Maria Ss.] – Não importa. Eu serei de Deus. No Templo rezarei. E talvez um dia eu verei o Emanuel. A virgem, que vai ser mãe dele, como diz o grande Profeta, já deve ter nascido, e já deve estar no Templo... Eu vou ser companheira dela... e sua serva... Oh! Sim! Se, por meio da luz de Deus, eu a puder conhecer, eu quereria ser serva dela, daquela virgem bem-aventurada! E, depois, ela traria o Filho a mim, e me levaria ao seu Filho, e eu serviria a Ele também. Pensa nisto mamãe!... Eu, servindo ao Messias!!... – Maria está dominada por este pensamento, que a sublima e a aniquila, ao mesmo tempo.
[...] Mas será que o Rei de Israel, o ungido de Deus, me permitirá que eu o sirva? 
[Sant’Ana] – Disso não tenha dúvidas! Pois, não diz o rei Salomão: “Sessenta são as rainhas, oitenta as outras mulheres, e as pequeninas serão sem número”? Vê como no Palácio do Rei serão sem número as meninas virgens que servirão ao seu senhor?
            Oh! Estás vendo agora como devo ser virgem? Eu devo. Se Ele por mãe quer uma virgem, isso é sinal de que ele ama a virgindade, sobre todas as coisas. [...]
            [A sabedoria de Maria – explicação de Jesus - 50/52 (7.7-7.9)]
            Já estou ouvindo os comentários dos doutores, em suas ironias maliciosas dizendo: "Como é que pode uma menina, que não tem ainda nem três anos, falar coisas assim? Isso é um exagero". E não refletem que me tornam monstruoso, alterando a minha infância, atribuindo-me atos de adulto.
            A inteligência não se manifesta em todos do mesmo modo e na mesma idade. [...] Mas há crianças que muito antes são capazes de discernir, entender e querer, usando de uma razão já suficientemente desenvolvida. A pequena Imelda Lambertini, Rosa de Viterbo, Nellie Organ, Nennolina, vos sirvam de base, ó doutores difíceis, para crerdes que minha mãe podia pensar e falar assim. Não citei mais do que quatro nomes por acaso, no meio de milhares de santas crianças que povoam o meu Paraíso, depois de terem raciocinado como adultos sobre a terra, umas com mais, outras com menos idade.
            Qual é a razão? Um dom de Deus. Portanto, Deus o pode dar na medida que quiser, a quem quiser e quando quiser. A razão é uma das coisas que mais vos tornam semelhantes a Deus, Espírito inteligente e raciocinante. A razão e a inteligência foram graças dadas por Deus ao homem no Paraíso terrestre. Quanto elas eram vivas, junto com a graça ainda intacta, operando no espírito de nossos dois Primeiros Pais!
            No livro de Jesus Bar Sirac[1] está escrito: "Toda sabedoria vem do Senhor Deus, e sempre esteve com Ele, mesmo antes dos séculos". Quanta sabedoria teriam, então, os homens, se tivessem permanecido filhos de Deus?
            As lacunas em vossas inteligências são o fruto natural do vosso decaimento da graça e da honestidade. Perdendo a Graça, vós vos afastastes, por séculos, da Sabedoria. [...]
            Depois veio o Cristo, e vos deu a Graça, dom supremo do amor de Deus. Mas, vós sabeis guardar esta gema tão límpida e pura? Não. Quando não a destruís com a vossa vontade individual de pecado, a sujais com contínuas culpas menores as vossas fraquezas, as vossas simpatias para com o vício, e também aquelas simpatias que não chegam ainda a ser verdadeiros casamentos com o vício septiforme, mas são um enfraquecimento da luz da Graça e de sua atividade. Depois, tivestes séculos e séculos de corrupções, para enfraquecer ainda mais a magnífica luz da inteligência que Deus havia dado aos Primeiros, corrupções que se repercutem como nocivas sobre o físico e sobre a mente.
            Maria porém era não somente a Pura, a nova Eva, criada de novo para a alegria de Deus: era a super-Eva, a Obra-Prima do Altíssimo, a cheia de graça, a mãe do Verbo na mente de Deus.
            "O Verbo é a Fonte da Sabedoria", diz Jesus Bar Sirac. O Filho, então, não terá posto a sua sabedoria sobre os lábios da própria mãe?
            [...]
            O milagre não está em uma inteligência superior, demonstrada por Maria em sua idade infantil, como depois aconteceu Comigo. Mas o milagre está em poder conter em si a Inteligência infinita, que nela habitava, dentro dos diques preparados para não assombrar as multidões e não despertar a atenção satânica.
[...].
            p. 68 (10.8-10.10) [Jesus]
            Maria se recordava de Deus. Sonhava com Deus. Pensava estar sonhando. Não fazia mais do que rever tudo o que o seu espírito havia visto no fulgor do Céu de Deus, no momento em que tinha sido criada, para ser unida à carne concebida na terra. Ela partilhava uma das propriedades de Deus ainda que de modo bem menor, como exigia a justiça. Assim, ela tinha a faculdade de recordar, ver e prever por atributo de uma inteligência poderosa e perfeita, não lesada pela Culpa.
            O homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Uma das semelhanças está na sua possibilidade de recordar, ver e prever, através do espírito. Isto explica também a faculdade de ver o futuro. Muitas vezes, esta faculdade aparece, pela vontade de Deus, de modo direto, outras vezes, vem pela lembrança, que se ergue, como o sol da manhã, iluminando um determinado ponto do horizonte dos séculos, como é visto no seio de Deus.
Estes são mistérios altos demais, para que os possais compreender plenamente. Mas, pensai.
            [...]
            Que tesouro de inteligência Deus deu ao homem Adão! A culpa, certamente, diminuiu essa inteligência, mas o Meu sacrifício reintegra o homem, e abre para vós os fulgores da Inteligência, os seus canais, a sua ciência. Oh! Que sublimidade tem a mente humana, unida a Deus pela Graça, participando da Sua capacidade de conhecer!... A mente humana unida a Deus pela Graça.
            Não existe outro modo. Os curiosos de segredos ultra-humanos que pensem nisso. Todo conhecimento que não proceda de uma alma em estado de graça – e não está em graça quem está contra a Lei de Deus, tão clara  em suas ordens –  só pode provir de Satanás. Dificilmente satanás corresponde à verdade em tudo o que se refere a assuntos humanos, e nunca corresponde à verdade no que se refere ao sobrenatural, porque o demônio é o pai da mentira, conduzindo-vos consigo aos caminhos da mentira. [...] Até onde a capacidade limitada do homem em estado de graça não consegue chegar, vem o Espírito falar-lhe e ensinar-lhe.
             Contudo, para o homem possuir o Espírito é necessária a Graça. Para possuir a Verdade e a Ciência, é necessária a Graça. Para o homem ter o Pai, é necessária a Graça.  A Graça é a Tenda em que as Três Pessoas fazem a sua morada, é o Propiciatório sobre o qual pousa o Eterno, e fala não mais de dentro da nuvem, mas revelando sua Face ao filho fiel. Os santos se recordam de Deus, das palavras ouvidas da Mente criadora e que a Bondade ressuscita em seus corações, para elevá-los, como águias, à contemplação do Verdadeiro e ao conhecimento do Tempo.
            Maria era a cheia de Graça. Toda a Graça, una e trina a preparava como esposa para as núpcias. Preparava-a como o leito nupcial para a prole, divinizando-a para a sua maternidade e missão. Ela é a que vem concluir o ciclo das profetisas do Antigo Testamento, e abre o ciclo dos "porta-vozes de Deus", no Novo Testamento.
            Arca da verdadeira Palavra de Deus, olhando em seu seio eternamente inviolado, Maria descobria as palavras da ciência eterna, traçadas pelo dedo de Deus em seu coração imaculado, e se recordava, como todos os Santos, tê-las já ouvido, quando gerada com o seu espírito imortal de Deus Pai, criador de toda vida. E, se não se recordava de tudo, a respeito de sua futura missão, é porque em toda perfeição humana, Deus deixa algumas lacunas, por divina prudência, que é bondade e merecimento, em favor da criatura.
            Como uma segunda Eva, Maria precisou conquistar a sua parte de merecimento, ao ser a mãe de Cristo, com uma fiel boa vontade, que Deus quis ter até em seu Cristo, para fazê-lo Redentor.
            O espírito de Maria estava no Céu. Sua personalidade e sua carne estavam na terra, devendo pisar terra e carne, para chegar ao espírito e uni-lo ao Espírito, num abraço fecundo.

[VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002, v. 1]. 


[1] Autor do Eclesiástico.

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