segunda-feira, 12 de março de 2012

VIA SACRA - Contemplação das Estações a partir das revelações feitas a Maria Valtorta

   
[ATENÇÃO: Veja a nova versão da Via Sacra, publicada em fev/2012, no seguinte o link: Via Sacra - Estações propostas por João Paulo II]

    Esta talvez seja a postagem mais importante deste blog.
    Selecionamos trechos do volume 10 da obra de Maria Valtorta sobre a Paixão de Cristo, e os organizamos de forma a facilitar a contemplação das Estações da Via Sacra. Foi associado a cada Estação um mistério do Terço da Divina Misericórdia (ao final da Via Sacra se terá rezado o Rosário).
   Recomendamos, também, a leitura dos demais textos do tópico "Paixão de Cristo", para maior aprofundamento nos mistérios de nossa salvação e na dimensão do amor que Deus tem por nós (há, ainda, alguns artigos que serão postados em breve).
   Que Deus os abençoe! Uma santa Quaresma!

   Francisco José
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Via Sacra
Com o Rosário da Divina Misericórdia

 Contemplação das Estações da Via Sacra a partir das revelações feitas por Jesus a Maria Valtorta
 
Via Sacra

Trechos extraídos da obra de Maria Valtorta[1]

Preâmbulo
     Acusado, condenado e morto. Traído, renegado e vendido. Abandonado até por Deus, porque sobre Mim estavam os delitos que Eu havia assumido. [...] Mergulhado na lama de todos os vossos pecados, fui jogado à profundeza escura da dor, sem ver mais a luz do Céu, que correspondesse ao meu olhar de moribundo, nem a voz divina que respondesse à minha última invocação.
     Isaías nos diz qual a razão de tão grande dor: “Verdadeiramente Ele tomou sobre si os nossos males e suportou as nossas dores”.
     As nossas dores! Sim. Foi em lugar de vós que as suportei. Para aliviar as vossas, para amenizá-las, para anulá-las, se me tivésseis sido féis. Mas não quisestes sê-lo. [...] Mas,  como é que não vistes Deus que brilhava na luz de sua infinita misericórdia, com aquela veste posta sobre sua santidade em vosso favor?
    
[...]
     Teria bastado um meu olhar para reduzir a cinzas tanto os juízes, como os carrascos. Mas Eu havia vindo voluntariamente para consumar o sacrifício, como um cordeiro, pois Eu era o Cordeiro de Deus, e continuo a sê-lo eternamente, e me deixei levar para ser despojado e morto, e para fazer de minha Carne a vossa Vida.
     Quando fui levantado na cruz, eu já estava acabado pelos sofrimentos sem nome, e tratado com todos os nomes. Eu comecei a morrer desde Belém, ao ver a luz da terra tão cheia de angústia e diferente para Mim, que era a Vida do Céu. Continuei a morrer na pobreza, no exílio, na fuga, no trabalho, na falta de ser compreendido, nas torturas, nas mentiras, nas blasfêmias. Estas coisas foram as que me foram dadas pelo homem a Mim que tinha vindo para uni-lo com Deus!
     [...]
     [...] Eu sou o Rei da dor, e virei falar-te da minha dor com a minha veste real. Acompanha-me, não obstante a tua agonia. Eu saberei, pois Eu sou Piedoso, pôr diante dos teus lábios, intoxicados pela minha dor, também o mel perfumado de contemplações mais serenas. Mas, por enquanto, deves ter preferência por estas de sangue, porque por estas tu tens a Vida, e com elas levarás outros à Vida. Beija a minha mão ensanguentada, e vigia, meditando sobre Mim Redentor. (p. 10-11)
     [A agonia do horto]
     [...] o anjo de minha dor me fez ver a esperança de todos. O Salvador por meio do meu sacrifício, como um consolo para a minha morte.
     Ele me deu os vossos nomes. E cada um deles foi para Mim uma gota de remédio derramado em minhas veias, para restituir-lhes a tensão e o funcionamento, e cada um foi para Mim uma vida que volta. No meio das desumanas torturas, para não gritar por minha dor humana, e para não perder a esperança em Deus e dizer que Ele estava sendo severo demais e injusto para com a sua vítima, Eu repeti os vossos nomes, pois Eu os vi. E Eu vos abençoei, então. E desde aquele momento Eu vos trouxe no coração. E quando chegou a vossa hora de estardes sobre a Terra, Eu me adiantei, vindo dos Céus, para acompanhar vossa chegada, alegrando-me com o pensamento de que uma nova flor do amor havia desabrochado no mundo, e que teria vivido por Mim.
     Oh! Meus benditos! Conforto do Cristo moribundo! A Mãe, o Discípulo, as Mulheres piedosas estavam ao redor de Mim, que estava morrendo, mas vós também estáveis lá. Os meus olhos, que estavam morrendo, ainda viam, junto ao rosto sofredor de minha Mãe, os vossos rostos amorosos, que se fechavam assim, felizes por se fecharem, porque vos haviam salvado, a vós, que mereceis o Sacrifício de um Deus.
     Agora ficaste conhecendo todas as dores que precederam à Paixão propriamente dita. A partir daqui, Eu te farei conhecer as dores da Paixão como foram acontecendo. Aquelas dores que mais ferem a vossa mente, quando nelas meditais.
     Mas vós meditais nelas muito pouco. Pouco demais. Não refletis em quanto foi que Me custastes, nem em qual foi a tortura da qual dependeu a vossa salvação. Vós, que vos lamentais por qualquer pequeno arranhão, por um esbarro em alguma esquina, por uma pequena dor de cabeça, pensais como Eu era todo uma chaga viva e que todas aquelas chagas estavam envenenadas com tantas coisas, que só aquelas coisas já serviam de tormento para o Criador delas, porque torturavam o já torturado Filho Deus, sem respeito ao  Pai das Criaturas, que as havia criado.
     [...]
     Seria bom pensar, quando sofreis, e, comparando as vossas imperfeições com a minha perfeição, e a minha dor com a vossa, reconhecer que o Pai vos ama a vós, como Me amou, naquela hora, e amá-lo por isso com todo o vosso ser, como Eu o amei, apesar do seu rigor. (p. 35-39)


Rosário da Divina Misericórdia
Pai Nosso, Ave Maria, Glória ao Pai
Primeira Estação
†  Jesus é condenado à morte
V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

[Na casa de Anás – p. 44-45]
     [...] De que me acusas?"
     "Por teres inventado uma doutrina nova."
     "Ó sacerdote! Israel já está cheio de novas doutrinas: os essênios têm a deles; os sadoquitas, a deles; os fariseus, a deles. E cada um tem a sua secreta que para um se chama prazer; para outro é o ouro; para outro, o poder, e cada um tem o seu ídolo. Mas Eu, não. Eu tenho restabelecido a espezinhada fé de meu Pai, o Deus Eterno, e simplesmente voltei a ensinar as dez proposições do Decálogo, gastando todas as forças dos meus pulmões para fazer que elas entrassem nos corações que não as conheciam mais."
     [...]
     "[...] Mas, por que é que me fazes tantas perguntas, se minha morte já é uma coisa decidida?"
[À casa de Caifás – p.48-49]
     [...] "Se eu falei bem, por que é que me bates? E, se Eu falei mal, por que é que não me dizes onde é que está o meu erro? Eu repito: Eu sou o Cristo, o Filho de Deus. Não posso mentir. O Sumo Sacerdote, o Eterno Sacerdote, sou Eu. Somente Eu é que trago o verdadeiro Racional, sobre o qual está escrito: Doutrina e Verdade. É a estas que Eu sou fiel. Até à morte, que é ignominiosa aos olhos do mundo, mas santa aos olhos de Deus e até à feliz Ressurreição. Eu sou Ungido Pontífice e sou Rei. E já estou para segurar o meu cetro, e com ele, como com uma peneira, Eu quero limpar a minha eira. Este Templo será destruído e ressurgirá, novo e santo. Porque este atual é corrompido, e Deus o entregou ao seu destino.."
     "Blasfemador!", todos gritam em coro. [...] "Seja réu de morte!"
     E, com gestos de desprezo e de escândalo, eles saem da sala, deixando Jesus à mercê dos esbirros e do populacho, das falsas testemunhas, dando-lhe bofetadas com os punhos, com escarros, cobrindo-lhe os olhos com um trapo, puxando-lhe violentamente os cabelos, jogando-o para um lado e para o outro, estando Ele com as mãos amarradas, de tal modo, que Ele esbarra contra as mesas, os bancos e as paredes e, enquanto isso, eles lhe vão perguntando: "Quem foi que te bateu? Adivinha!" E tudo isso eles fazem muitas vezes, dando-lhe rasteiras, fazendo-o cair de bruços e se riem escancaradamente, ao verem como, com as mãos amarradas, Ele leva tempo para levantar- se.
     Assim passam as horas [...]
     [...]
     Jesus é levado de novo para o tribunal. E todos, em coro, lhe repetem a pergunta capciosa: "Em Nome do Deus verdadeiro, dize-nos: és tu o Cristo?"
     E, tendo recebido a mesma resposta de antes, eles o condenam à morte, e dão a ordem de conduzi-lo a Pilatos.
     [...]
     "A morte, à morte o blasfemador, o corruptor, o satanás! à morte os amigos dele!", e os assobios silvam, as pedras são arremessadas com as fundas na direção do terraço [...]
     [...]
[Jesus perante Pilatos no pretório]
     Jesus entra no pretório, rodeado por dez soldados, os dois centuriões estão diante deles.
     [...]
     "Não. Não. Barrabás, não. A Jesus, a morte. E uma morte horrenda! Livra Barrabás, e condena o Nazareno."
     "Mas, ouvi bem. Eu disse varadas. Não basta? Então, o farei flagelar. Isso é atroz, sabeis? Pode ser que morra durante o ato. Que foi que Ele fez de mal? Eu não acho nenhuma culpa nele. E o libertarei."
     "Crucifica-o! Crucifica-o! Mata-o! [...]
     [...]
     "Seja flagelado", ordena Pilatos a um centurião.
     "Quanto?"
     "Quanto te parecer. E assim esta tarefa termina. Eu já estou aborrecido. Vai".
     [...] Eles estão armados com o flagelo feito com sete tiras de couro ligadas a um cabo e terminando em um pequeno martelo de chumbo. De modo ritmado, como se fosse um exercício, eles começam a bater. Um na frente, e o outro atrás, de tal modo que o tronco de Jesus fica dentro de uma roda de azorragues e flagelos. [...]
     [...] E eles se enfurecem especialmente contra o tórax e o abdome, mas não deixam de bater nas pernas e nos braços, e finalmente na cabeça, para que não fique nenhum espaço da pele sem dor.
     E não se ouve nenhum lamento... Se Ele não estivesse seguro pela corda, cairia. Mas Ele não cai, nem geme. Somente sua cabeça é que fica pendente, depois dos golpes e mais golpes recebidos no peito, como nos desmaios.
     "Cuidado! Pára aí! Para Ele ser morto, precisa ainda estar vivo", grita gracejando um soldado.
     [...]
     "Espera. Os judeus querem um rei. Pois agora vamos dar-lhe. É aquele", diz um soldado,
      E ele sai correndo para fora, e vai a um pátio que fica mais atrás, e do qual volta com um feixe de ramos de pilriteiro selvagem [...] Na frente eles põem um cordão de espinhos triplicemente trançado. E atrás, onde as extremidades dos três ramos se cruzam, forma-se um verdadeiro nó de espinhos, que penetram na nuca.
     [...]
     [...] "Salve, ó Rei dos Judeus", e quase se arrebentam de tanto rir.
     [...]
     Jesus é lavado de novo para o átrio [...]
     Jesus continua de pé. E eu lhes asseguro que Ele nunca mostrou a nobreza desta hora. Nem mesmo quando ele fazia os mais estupendos milagres. A nobreza da dor. E, de tal modo divino, que bastaria para pôr-lhe o nome de Deus. Mas, para dizer esse Nome é preciso que se seja, pelo menos, homens. E Jerusalém hoje não tem homens, só tem demônios.
     Jesus passa o olhar sobre a multidão, procura e encontra, no meio dos rostos odientos, os rostos amigos. Quantos são? Menos de vinte amigos, no meio de milhares de inimigos... E Ele inclina a cabeça, entristecido por esse abandono. Uma lágrima cai... depois outra... e mais outra... A vista do seu pranto não gera piedade, mas um ódio ainda mais feroz.
     [...]
     "Quereis vê-lo morto, então? Pois que o seja. Mas que o sangue deste justo não esteja em minhas mãos" e, tendo feito que lhe levassem uma bacia lavou suas mãos na presença do povo, que parece estar tomado por um frenesi, enquanto grita: "Sobre nós caia, sobre nós o sangue dele. Caia sobre nós e sobre os nossos filhos. Nós não temos medo. Seja crucificado! Seja crucificado!"
     Pôncio Pilatos volta para o seu trono, chama o centurião Longino e um escravo. Pelo escravo ele faz que seja levada uma tábua, sobre a qual coloca um cartaz, e manda que se escreva nele; "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus". E o mostra ao povo.
     "Não, Assim, não. Não escrevas rei dos judeus, mas que ele disse que seria rei dos judeus", gritam muitos.
     "O que eu escrevi, está escrito", diz com dureza Pilatos, e, de pé, estende a mão com a palma virada para a frente e depois para baixo, e ordena: "Que vá para a cruz. Soldado, vai. Prepara a cruz." [...]
     Diz Jesus:
     [...] Eu tinha que ser todo machucado para expiar os vossos pecados da carne. E Eu fui machucado, Eu sou o Homem do qual fala Isaías. E, ao suplício que foi ordenado, acrescentou-se o que não foi ordenado, mas que foi inventado pela crueldade humana, o suplício dos espinhos.
     Estais vendo, ó homens, o vosso Salvador, o vosso Rei, coroado de dor para livrar vossa cabeça de tantas culpas que nela fermentam? Não fazeis idéia, ó homens, de qual foi a dor que sofreu a minha cabeça inocente, a fim de pagar por vós, pelos vossos cada vez mais atrozes pecados, por pensamentos que se transformam em ações? [...] Vós não quereis o Filho de Deus. Para os vossos delitos Ele não vos ajuda. Quem vos ajuda mais é Satanás. Por isso, quereis Satanás. Do Filho de Deus vós tendes medo, como o Pilatos. [...]
     Quem Eu sou, vós o sabeis. Até aqueles que me negam sabem quem são eles e Quem Eu sou. Não mintais. Vinte séculos estão ao redor de Mim e vos mostram quem Eu sou, e vos falam sobre os meus prodígios. É mais digno de perdão Pilatos. E não vós, que tendes uma herança de vinte séculos de Cristianismo, que servem de base para a vossa fé, ou para vo-la inculcar, e vós não quereis saber disso. E contudo Eu fui mais severo com Pilatos, do que convosco. Eu não lhe dei resposta. Mas convosco Eu estou falando. E, não obstante isso, não consigo persuadir-vos de que sou Eu, a quem vós deveis adoração e obediência.
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Primeiro Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Segunda Estação
†  Jesus carrega a sua cruz

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Já vão levando as cruzes. As dos dois ladrões são mais curtas. A de Jesus é muito maior. Eu acho que a peça vertical não tem menos de quatro metros. Eu vejo a cruz, quando ela já foi formada e vai sendo levada. [...] eu estou vendo uma verdadeira cruz, já bem armada, e bem reforçada com pregos e parafusos com porcas. [...]
     Antes de entregarem a cruz a Jesus, penduram-lhe ao pescoço a tabuinha com estes dizeres escritos: "Jesus Nazareno, Rei dos Judeus." E a corda que a prende se embaraça na coroa, que fica se movendo e arranhando por onde ainda não foi arranhado, e os espinhos vão penetrando em novos pontos, causando novas dores, e fazendo o sangue escorrer de novo. O povo se ri, com uma alegria cheia de sadismo, e o insulta, dizendo blasfêmias contra Ele.
     [...] "Na frente vai o Nazareno. Atrás dele os dois ladrões [...]”
     [...] E logo se torna evidente que Jesus está com uma grande fraqueza. [...]
     Os judeus se riem ao vê-lo como um embriagado, que vai cambaleando, e gritam, aos soldados: "Batei nele! Fazei-o cair. Que caia na poeira o blasfemador!" [...]
     [...]
     Os Judeus não podem mais feri-lo de perto. Mas ainda conseguem que até Ele chegue alguma pedra ou cacetada. [...]
     Os soldados o defendem como podem. Mas, mesmo quando o defendem, ainda o machucam, porque as longas hastas das lanças, brandidas em um lugar tão apertado, esbarram nele, e o fazem tropeçar. [...]
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Segundo Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Terceira Estação
† 
Jesus cai pela primeira vez

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Tem início a subida do Calvário. É um caminho nu, sem nem um fio de sombra, calçado com pedras soltas, que formam a subida. Também neste ponto, quando eu podia ler, li que o Calvário tinha poucos metros de altura. Pode ser. Mas com certeza um monte ele não é. Mas é uma colina [...] Alguém poderá dizer: "Ah! Tão pouca coisa!" Sim. Para alguém que está são e forte, é pouca coisa. Mas basta ter um coração fraco para perceber se é pouca ou muita! [...] Quanto a Jesus, eu creio que teria o coração em mau estado, depois daquela flagelação e do suor de sangue... E não contemplo nada mais do que estas duas coisas.
     Por tudo isso Jesus sofre muitas dores, e mais ainda, por ter que estar subindo com o peso da cruz que, sendo comprida como é, deve também ser muito pesada.
     Ele vai contra uma pedra saliente e, enfraquecido como está, levanta o pé muito pouco, tropeça nela, e cai para o lado do joelho direito, conseguindo, porém, ir-se levantando, apoiando-se na mão esquerda. O populacho grita de alegria... Afinal, Ele se levanta. E continua a andar. Sempre mais inclinado e ofegante, congestionado, febril...
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Terceiro Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Quarta Estação
†  Jesus encontra Maria, sua mãe

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Ele [o Cireneu] chega até perto de Jesus, justamente no momento em que Jesus está se virando para a Mãe, que só agora é que Ele pôde ver, vindo ao seu encontro, pois Ele ia andando tão inclinado, e com os olhos quase fechados, como se estivesse cego e grita: "Minha Mãe!'
     [...]
     Maria leva a mão ao seu coração, como se tivesse recebido uma punhalada, e sente uma leve vacilação. Mas Ela se reanima, apressa o passo enquanto vai com os braços estendidos na direção do seu Filho. Ela grita, dilacerada pela dor: "Meu Filho!" Mas diz isso de uma maneira tal, que quem não tiver um coração de hiena, sentirá que Ela se aniquila com a dor que sente.  (p. 104-107)
     [...]
     Atrás dessas mulheres e das Marias, estou vendo José e Simão de Alfeu, Alfeu de Sara, junto com o grupo dos pastores. Eles tiveram que lutar com os que os queriam expulsos de lá [...]. É preciso que se tenha uma grande coragem estando reduzidos a um pequeno número, e sendo conhecidos como galileus, ou como sequazes do Galileu, e tendo contra si o povo todo. Mas este é o único lugar em todo o Calvário onde não se blasfema contra Cristo!
     [...] Até a Mãe dele eles insultam, dizendo: "A morte, os galileus! A morte! Galileus! Galileus! A morte o blasfemador Galileu. Pregai na cruz também o seio que o trouxe! Fora! [...]"
     No alto está tudo pronto. Fazem que os condenados subam. E Jesus passa mais uma vez por perto da Mãe, e Ela dá um gemido, que ela mesma fez esforço para frear, levando o manto à boca. Os juizes viram isso, e se puseram a rir e a zombar dela. (p. 108-109)
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Quarto Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Quinta Estação
†  Jesus recebe ajuda de Simão para carregar a cruz

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [† Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Longino o está observando [o Cireneu]. Ele pensa que o homem lhe possa ser útil, e lhe ordena: "Homem, vem cá!" O Cireneu faz de quem não ouviu. Mas com Longino não se brinca. Ele repete a ordem de um modo tal, que o homem entrega as rédeas a um dos seus filhos, e vai para perto do centurião.
     "Estás vendo aquele homem?", pergunta-lhe ele. E, ao dizer isso, vira-se para mostrar Jesus, e vê Maria, que está suplicando aos soldados que a deixem passar. Ele fica com dó dela, e grita: "Deixa passar a mulher." Depois ele torna a falar ao Cireneu: "Ele não pode mais andar com toda aquela carga. Tu és um homem forte. Toma a cruz dele, e leva-a para ele até lá em cima."
     "Eu não posso... Estou com aquele burro... ele é teimoso... os rapazes não são capazes de retê-lo..."
     Mas Longino lhe diz: "Vai, se não queres perder o burro e levar vinte vergastadas de castigo."
     O Cireneu não tem coragem de reagir. E diz aos rapazes: "Ide para casa, e logo. E dizei lá que eu volto logo", e depois vai.
     [...]
     E o Cireneu [ao contemplar o encontro entre Jesus e Maria] tem esta compaixão... [...] e se apressa em levantar a cruz, fazendo isso com uma delicadeza de pai, a fim de não esbarrar na coroa nem ficar roçando nas feridas.
     [...] Agora, atrás de Jesus, está o Cireneu com a sua cruz. E Jesus, livre daquele peso, pode andar melhor. Ele está arquejando fortemente, [...] mas já está podendo caminhar melhor. (p. 105-107)
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Quinto Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Sexta Estação
† 
Verônica enxuga a face de Jesus

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Uma outra mulher, tendo perto de si uma menina que a serve, com um cofrezinho nos braços, abre o cofrezinho, tira de lá um pano de linho muito fino, como um lenço, e o oferece ao Redentor. E Ele o aceita. Mas visto que Ele não pode só com uma mão fazê-lo por Si mesmo, a piedosa mulher o ajuda, tomando cuidado para não esbarrar na coroa, que lhe vem caindo sobre o rosto. E Jesus aperta o linho fresco sobre sua pobre face, e lá o segura, como se nele encontrasse um grande conforto. (p. 103)
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Sexto Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Sétima Estação
† 
Jesus cai pela segunda vez

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     O cartaz que vai balançando à sua frente lhe perturba a visão, e sua veste longa, agora que Ele vai inclinado, se arrasta pelo chão, e para a frente lhe torna difícil dar o passo. Ele torna a tropeçar, e cai sobre os dois joelhos, ferindo-se de novo onde já estava ferido, e a cruz escapa de suas mãos e cai, depois de ter-lhe dado uma forte pancada no dorso, obrigando-o a inclinar-se para levantá-la e a cansar-se para pô-la de novo no ombro. E, enquanto Ele faz isso, aparece claramente visível sobre o seu ombro direito a chaga feita pela cruz ao cair, e que reabriu as feridas feitas pelos flagelos, unindo-as todas em uma só, que solta soro e sangue, de tal modo que a sua túnica branca fica naquele lugar toda manchada. O povo até bate palmas pela alegria de vê-lo cair daquele mau jeito... (p. 99)
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Sétimo Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Oitava Estação
† 
Jesus fala às mulheres de Jerusalém

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     [...] Depois Ele lhe entrega o linho, e fala: "Obrigado, Joana, obrigado Nique [Verônica]... Sara... Marcela... Elisa... Lídia... Ana... Valéria... E tu... Mas... não choreis... por Mim... filhas de Jerusalém... mas pelos pecados... os vossos e os... da vossa cidade... Dá graças a Deus... Joana... por não teres... mais filhos... Vê... é piedade de Deus... não... não ter filhos para que sofram com isso. E tu, Isabel... Melhor... Como foi... entre os deicidas... E vós... Mães... chorai sobre... os vossos filhos, porque esta hora não passará sem castigo... E que castigo... se assim fazem... com o Inocente... Chorareis, então... por terdes concebido... por terdes dado de mamar e de... terdes ainda... os filhos... As mães... de então... chorarão... porque... em verdade Eu vos digo... que será feliz... quem, então... cair... debaixo dos escombros... em primeiro lugar. Eu vos abençôo... Ide... para casa... rezai... por Mim. Adeus, Jônatas... Leva-as embora..." (p. 103)
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Oitavo Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Nona Estação
†  Jesus cai pela terceira vez


V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

    Depois, em seguida, vem a dor da terceira queda, que é completa. Mas desta vez não foi por haver tropeços. É que Ele caiu por uma repentina falta de forças, uma síncope. Ele cai logo todo estendido, batendo o rosto sobre pedras soltas, e ficando na poeira, por debaixo da cruz que caiu em cima dele. Os soldados querem levantá-lo. Mas, como Ele parece estar morto, vão dizê-lo ao centurião. Mas, enquanto eles vão e vem, Jesus volta a si e, lentamente, com a ajuda de dois soldados, enquanto o outro ajuda o Condenado a pôr-se de pé, e Jesus volta ao seu lugar. Mas Jesus já está extenuado.
    "Fazei que Ele não morra, a não ser na cruz!", grita a multidão.
    "Se o fizerdes morrer antes, prestareis contas disso ao Procônsul, lembrai-vos disso. O réu deve chegar vivo ao suplício", dizem os chefes dos escribas aos soldados. (p. 100)
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Nono Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Estação
† 
Jesus é despojado de suas vestes

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Quatro homens musculosos, que pelo aspecto me parecem judeus, e judeus dignos da cruz mais do que os condenados. [...] Estão vestidos com umas túnicas curtas e sem mangas, e vêm trazendo nas mãos os cravos, os martelos e as cordas que eles, dizendo chalaças, mostram aos três condenados. Enquanto isso, a multidão se agita em um delírio cruel.
     O centurião oferece a Jesus a ânfora, para que Ele beba uma mistura anestésica de vinho com mirra. E Jesus a rejeita. Mas os ladrões bebem bastante dela. [...]
     É dada a ordem aos condenados para que se dispam. Os dois ladrões logo o fazem, sem nenhum pudor. [...]
     Os carrascos oferecem aos condenados três trapos para que eles cubram as suas virilhas. E os dois ladrões os pegam com as mais horríveis blasfêmias. Jesus vai-se despindo lentamente, por causa do espasmo que lhe causam as feridas, e os recusa. Talvez Ele pense em conservar as ceroulas curtas, com que Ele estava durante a flagelação. Mas, quando lhe foi dito que as tirasse também, Ele estende a mão, para pedir como esmola o trapo aos carrascos, a fim de proteger sua nudez. Agora é Ele o aniquilado, chegando ao ponto de ter que pedir um trapo a uns delinqüentes.
     Mas Maria viu aquilo e foi tirando o seu longo e leve pano branco, que lhe cobre a cabeça e está por baixo do manto escuro sobre o qual Ela já derramou tantas lágrimas. E Ela o tira, sem deixar cair o manto, entrega-o a João para que o passe a Longino a fim de que o entregue ao seu Filho. O centurião pega o véu, sem criar dificuldades, e, quando vê que Jesus está para desnudar-se completamente, estando Ele virado, não para a multidão, mas para o lado onde não está o povo, pondo assim à mostra as suas costas cheias de equimoses e de empolas, sangrando pelas feridas recebidas, e ainda abertas, ou pelas crostas escuras, e lhe estende o pano da Mãe. E Jesus o reconhece. E se envolve com ele, dando muitas voltas ao redor do abdome, e atando-o bem, para que não caia. E sobre aquele linho, que até agora só foi molhado pelo pranto, caem as primeiras gotas de sangue [...]
     Agora Jesus se vira para a multidão. E assim se pode ver que até o peito, os braços, as pernas, tudo foi atingido pelos flagelos [...]
     A multidão zomba dele em coro: "Oh! Oh! Que belo! É o mais belo dos filhos dos homens. As filhas de Jerusalém te adoram..." (p. 110-112)
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Décimo Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Primeira Estação
† 
Jesus é pregado na cruz

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Depois chegou a vez de Jesus. Ele se estende mansamente sobre o madeiro. [...]. Ele se agacha e enfia a cabeça, por onde eles dizem que deve fazê-lo. Ele abre os braços, como eles lhe ordenam e estende as pernas como eles mandam. [...]
     Dois carrascos se assentam sobre o peito dele, para segurá-lo quieto. [...] Um terceiro lhe segura o braço direito segurando-o com uma mão sobre a primeira parte do antebraço, e com a outra, na parte dos dedos. O quarto, que já tem na mão o longo cravo aguçado na ponta, e terminando do outro lado em uma chapa redonda e chata, da espessura de uma moeda dos tempos passados. Olha se o buraco que já foi feito na madeira vai dar certo com o ponto da juntura raio ulnar do pulso. Tudo bem? Aí o carrasco apóia a ponta do cravo no pulso, e dá a primeira batida.
     Jesus estava com os olhos fechados, ao sentir aquela dor aguda, solta um grito e faz uma contração, arregala os olhos, que estão nadando em lágrimas. [...]
     Maria responde ao grito do seu Filho torturado com um gemido [...] segurando a cabeça entre as mãos. Jesus, para não torturá-la, não grita mais. Mas os golpes continuam, compassados, ásperos, de ferro contra ferro... mas ficamos a pensar que por baixo há um membro vivo que os recebe.
      A mão direita já está pregada. Passa-se para a esquerda. O buraco não está no rumo do carpo. Então, eles apanham uma corda, a amarram no pulso esquerdo e puxam, até que se desloque a articulação e se arranquem os tendões e os músculos, além de lacerar a pele, já cortada pela corda da captura. Também esta outra mão deve estar sofrendo, pois está esticada para o rumo oposto, e, ao redor do seu cravo, vai-se alargando o buraco. Por enquanto, ficam apenas no começo do metacarpo, isto é, entre o polegar e os outros dedos justamente no centro do metacarpo, junto ao pulso. Aqui o cravo entra mais facilmente, mas produzindo um maior espasmo [...]. Mas Jesus não grita mais, tem somente um lamento rouco, atrás dos lábios fortemente fechados [...].
     Agora é a vez dos pés. A uns dois metros, ou mais, da ponta da cruz, há uma pequena cunha, que dá somente para um pé. [...]
     Agora aqueles que estavam sentados no peito de Jesus se levantam, e vão colocar-se sobre os joelhos, visto que Jesus fez um movimento involuntário para encolher as pernas, ao ver brilhar ao sol um cravo muito comprido, com o dobro do comprimento da grossura, o dobro da que foi usada para as mãos. Eles põem os seus pesos sobre os joelhos esfolados e fazem compressão sobre as pobres canelas contundidas, enquanto os outros dois executam a operação, muito difícil, de pregar um pé sobre o outro, procurando combinar as duas articulações dos tarsos sobrepostos.
     Por mais que eles fiquem olhando, e segurando com firmeza os pés, ao baterem o martelo sobre os dedos contra a cunha, o pé que fica por baixo muda de lugar por causa da vibração do cravo, e eles precisam quase arrancá-lo, porque ele, depois de ter entrado nas partes moles, já sem ponta por ter perfurado o pé direito, deve ter-se deslocado um pouco para o centro. E eles batem, batem, batem... Só se ouve o atroz rumor feito pelo martelo sobre a cabeça do cravo, pois todo o Calvário está com seus olhos e ouvidos atentos para apreciarem as ações e o rumor, e se divertirem com aquilo...
     Ao som áspero do ferro se une o lamento de uma pomba, à surdina: é o gemido rouco de Maria que, cada vez mais inclinada, a cada batida, como se o martelo a estivesse ferindo a Mãe Mártir. E Ela tem razão de parecer estar perto de ser despedaçada por aquela tortura. A crucifixão é uma coisa tremenda. [...]
     [...]
     Agora a cruz está sendo arrastada para o buraco, e vai baqueando, sacudindo o pobre crucificado, pois o chão é muito acidentado. Por fim, é levantada a cruz, que por duas vezes escapou das mãos dos que a estavam levantando, tornando a cair, uma vez, de repente, e outra sobre o braço direito da mesma, causando um áspero tormento a Jesus, porque uma sacudida repentina move de lugar os membros feridos.
     Mas, quando depois a cruz é solta, e cai em seu buraco, antes ainda de ser socada ao redor com pedras e terrões, e ainda está bambeando para todas as direções, causando contínuas mudanças de posição ao pobre Corpo, que está pendurado de três cravos, o sofrimento deve ser horrível. [...]
     Finalmente, a cruz é firmada no terreno, e não há outro tormento, se não o de ficar pendurado. [...] Jesus está calado. A multidão não se cala mais. Mas até recomeça aquele vozerio infernal.
     Agora o alto do Gólgota tem o seu troféu e sua guarda de honra. No ponto mais alto está a cruz de Jesus. De um e do outro lado dela, estão as outras duas. [...] (p. 112-115)
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Décimo Primeiro Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Segunda Estação
† 
Jesus morre na Cruz

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     O rosto já está com aquele aspecto que vemos nas fotografias do Sudário, com o nariz desviado e inchado de um lado, e também com o olho direito quase fechado e, por causa da inchação que há deste lado, a semelhança aumenta. A boca está aberta, com uma ferida no lábio superior, que já se transformou em uma crosta.
     [...]
     Jesus parece ir empalidecendo sinistramente [...]. Ele está tremendo, não obstante a febre ardente em que está. E, em sua fraqueza, Ele murmura o nome que antes dizia, apenas no fundo do seu coração: "Minha Mãe!", "Minha Mãe!" [...] E Maria, cada vez que isso acontece, faz o gesto irrefreável de estender os braços para socorrê-lo.
     E aquela gente cruel se ri dos espasmos de quem está morrendo e do que Ele diz durante os espasmos. [...]
     [...] muitos começam a ficar impressionados com a luz que está envolvendo o mundo, e já alguns estão com medo. [...]
     É sob esta luz crepuscular e medonha que Jesus dá Maria a João, e João a Maria. Ele inclina a cabeça, pois sua Mãe foi ficar mais embaixo da cruz para vê-lo melhor, e diz: "Mulher, eis aí o teu filho. Filho, eis aí a tua Mãe."
     Maria está com o rosto ainda mais desfeito, depois destas palavras que são o testamento do seu Jesus, que não tem nada para dar a sua mãe, a não ser um homem, Ele que, por amor do Homem a priva do Homem Deus, nascido dela. Mas a pobre Mãe procura não chorar, a não ser em silêncio, porque não pode deixar de chorar... [...]
     [...]
     Os sofrimentos são sempre mais fortes. O corpo tem os primeiros arqueamentos próprios da tetania, e todos os clamores da multidão os exasperam. A morte das fibras e dos nervos se estende, tornando cada vez mais difícil o movimento respiratório e mais fraca a contração diafragmática do pescoço e da própria cabeça, e desordenado o movimento cardíaco. [...]
     [...]
     Com grande dificuldade, apoiando-se mais uma vez sobre os pés torturados, encontrando para isso força em sua vontade, e somente nela, Jesus se ergue sobre a cruz, fica em pé, como se estivesse são e com todas as suas forças, levanta o rosto, olhando com os olhos bem abertos o mundo que se estende a seus pés [...]. Ele grita em alta voz [...]: "Eloi, Eloi, lamma sabactani" (foi assim que eu o ouvi falar). Ele deve perceber que está morrendo, absolutamente abandonado pelo Céu, só confessar com estas palavras o abandono do Pai.
     [...]
     Repetem-se os ataques de dor, uma dor sem consolo, como a que já o havia atribulado no Getsêmani. Voltam as ondas dos pecados de todo o mundo a pesar sobre o pobre náufrago inocente e a submergi-lo em sua amargura. Volta especialmente a sensação que crucifica mais do que a cruz, mais desesperadora do que qualquer outra, de que Deus o abandonou e que a Ele não chega sua oração...
     [...]
     A escuridão se torna ainda mais completa. Jerusalém desapareceu completamente. Até o Calvário parece sumir inteiramente, até mesmo em suas bases. Dele somente o cume é que é visível. [...] Do meio daquela luz vem a voz lamentosa de Jesus: "Tenho sede!"
     [...]
     Jesus, que chupou com avidez aquela áspera e amarga bebida [o fel], vira a cabeça, envenenado pelo gosto dela. Ela deve ser como um líquido corrosivo sobre os lábios feridos e trincados.
     Ele se retrai, se abate, e se abandona. Todo o peso do seu corpo está sobre seus pés, e puxando-o para a frente. [...] Da bacia para cima Ele se afastou do lenho da cruz, e assim fica.
     [...]
     Silêncio. Depois, bem claras no meio da escuridão total, ouvem-se estas palavras: "Tudo está terminado!", e depois, com a respiração cada vez mais estertorosa, e com umas pausas de silêncio, entre um estertor e outro, cada vez mais prolongadas.
     [...]
     As Marias estão chorando, com a cabeça sobre uma elevação do terreno. E ouve-se bem o choro delas, porque agora toda a multidão está calada de novo para assistir aos estertores do Moribundo.
     Ainda estão fazendo silêncio. Depois, pronunciada com uma grande doçura, e com uma ardente oração, ouve-se esta súplica: "Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!"
     Continua o silêncio. Também os estertores estão diminuindo. Só há um curto sopro nos lábios e na garganta.
     Depois vem o último espasmo de Jesus. Uma convulsão atroz, que parece querer arrancar o corpo que está pregado com os três cravos no madeiro, vai subindo por três vezes, dos pés até a cabeça [...]. O corpo se estica todo [...], depois dá um grito muito forte, [...] e fere o ar dando o "grande grito" do qual falam os Evangelhos, e que é a primeira parte da palavra "Mamãe... E nada mais..."
     A cabeça torna a cair sobre o peito, e o corpo para a frente, o frêmito cessa, cessa a respiração... Ele expirou...
     A terra responde ao grito do que foi matado com um estrondo pavoroso. [...] Os raios são a única luz descontínua que permite ser vista. E depois [...] a terra estremece em um turbilhão de vento em ciclone. O terremoto e o vento se unem para darem um castigo apocalíptico aos blasfemadores. [...].
     [...]
     Longino vai pôr-se bem diante do crucificado, estuda bem o golpe, e depois o vibra. A longa lança penetra profundamente de baixo até em cima e da direita para a esquerda.
     [...]
     Da ferida sai muita água e um fiozinho apenas de sangue, já começando a coagular-se. [...]
     [...]
     "Que coisas tremendas! Eu [Gamaliel] estava no Templo. Este foi o sinal! O Templo desaprumado! O véu de púrpura e jacinto, está todo rasgado e pendurado! O Santo dos santos está aberto! O anátema caiu sobre nós." [...] "Estas pedras tremerão às minhas últimas palavras! Ele o havia promerido!..." [...]
     [...] Urros, choros, lamentos... Alguém diz: "O Sangue dele fez chover fogo!" E outro diz: "Por entre os raios, Javé apareceu para maldizer o Templo". E outros gemem, dizendo: "Os sepulcros! Os sepulcros!"
     [...]
     A cidade está tomada pelo terror [...]
     [...]
     Chegaram ao Pretório. E somente lá, enquanto ficam esperando para serem atendidos pelo Procônsul, José e Nicodemos conseguem saber qual é o porquê de tantos terrores. Muitos sepulcros se haviam aberto pela sacudida telúrica, e havia quem jurasse ter visto saírem os esqueletos que, por um instante, se mostravam em aparência humana, e iam acusando os culpados do deicídio, e os amaldiçoando.
     [...]
     Ele [Gamaliel] se põe de joelhos, estende os braços, e chora: "Eras Tu! Eras Tu! Não podemos mais ter perdão. Nós tínhamos desejado o teu Sangue sobre nós. E isso brada ao Céu, e o Céu nos amaldiçoa... Oh! Mas Tu és a Misericórdia!... Eu te digo, eu, o aniquilado rabi de Judá: "Venha o teu sangue sobre nós, por piedade..." E ele chora. [...] "Neste meu velho pensamento, prisioneiro de umas fórmulas, penetra Tu, ó Libertador. Isaías o diz: ‘... Ele pagou pelos pecadores, e tomou sobre Si os pecados de muitos.’ Oh! Os meus também, ó Jesus de Nazaré..." (p. 120-134)
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Décimo Segundo Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Terceira Estação
† 
Jesus é retirado da Cruz

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     Os quatro carrascos quereriam também ocupar-se com Jesus, despregando-o da cruz. Mas José e Nicodemos não lhe permitem. Também José tira o manto, e diz ao João que faça o mesmo e que segure as escadas enquanto eles sobem, com escoras e tenazes.
     [...]
     Maria, então, vai-se pôr aos pés da cruz, sentada de costas para ela e assim pronta para receber ao seu Jesus em seu colo.
     [...]
     Agora Ele está no colo da Mãe... E parece um menino grande e cansado que está dormindo, todo abrigado sobre o seio de sua mãe. Maria o sustenta com o braço direito, passado por detrás das costas do Filho, e o esquerdo por cima do abdome, para segurá-lo por baixo dos quadris. A, cabeça está sobre o ombro materno. E ela o chama... Chama com uma voz cheia de dor. [...]
     [...]
     Então, a socorrem, a confortam. Querem tomar dela o Morto divino, visto que Ela está gritando: "Onde, onde te colocarei, em que lugar que seja seguro e digno de Ti!" O José, todo inclinado, em uma inclinação reverente, com a mão aberta posta sobre o peito, diz: "Conforta-te, ó Mulher! O meu sepulcro está novo e digno de um grande. Eu o dôo à Ele. [...] (p. 134-136)
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Décimo Terceiro Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Quarta Estação
† 
Jesus é sepultado

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     O pequeno cortejo, depois de ter descido do Calvário, encontra, cavado na base do mesmo, no calcário do monte, o sepulcro de José de Arimatéia. Num ato de piedade eles entram nele com o Corpo de Jesus. Estou vendo o sepulcro assim: é um espaço cavado no rochedo, que está perto de um jardim todo em flor. Parece uma gruta natural, mas está cavado pela mão do homem. [...]
     Entram também João e Maria. Não entram outras pessoas, porque a câmara é pequena [...].
     Os dois portadores descobrem o corpo de Jesus. Enquanto eles preparam as faixas e os aromas em um canto da mesa, à luz de duas tochas, Maria se inclina sobre o corpo de seu Filho, e chora. E de novo o enxuga com o véu que ainda está nas costas de Jesus. É o único banho que toma o Corpo de Jesus esse das lágrimas de sua Mãe [...].
     Maria não se cansa de acariciar aqueles membros gelados. Com uma delicadeza ainda maior do que se tocasse os de um recém nascido, Ela toma as pobres mãos feridas, as aperta entre as suas, beija os dedos delas, depois as estende, procura unir as bordas das feridas, como quem faz uns curativos, a fim de que elas doam menos [...].
     [...]
     Os lamentos dela me fazem sentir-me mal. E é o que Ela faz, quando, gemendo, diz: "Que foi que te fizeram, meu Filho?" [...].
     [...]
     "Pobre Filho! Quantas feridas!... Como sofreste! Olha o que te fizeram! [...]
     [...]
     [...] "Mas Tu te lembras, meu Filho, daquela sublime veste esplendorosa que tudo vestiu, enquanto o teu sorriso nascia para o mundo? Estás lembrado daquela luz beatífica que o Pai mandou dos Céus para envolver o mistério do teu nascimento, e para fazer-te achar menos repelente este mundo escuro, para Ti, que eras a Luz, e vinhas da Luz do Pai e do Espírito Paráclito. E agora?... Agora tudo escuro e frio... Que frio!...Quanto frio. [...] Mas eu te amarei por duas: por estes que amaram tão pouco, a ponto de te abandonarem na hora da tua dor. Eu te amarei por aqueles que te odiaram. Por todo o mundo eu te amarei, meu Filho. [...]."
     [...]
     [...] Os pastores adoraram o Salvador em seu sono de criança. Vós adorais o Salvador em seu sono de Triunfador sobre Satanás. Por isso, como os pastores, ide dizer ao mundo: "Glória a Deus! O pecado morreu! Satanás está vencido! Que haja paz na terra e no céu entre Deus e os homens!" Preparai os caminhos para a sua volta. Eu vos mando Eu, que a maternidade constituiu a Sacerdotisa do rito. [...] Então, não vos lembrais? "A esta geração má e adúltera, que me pede um sinal, não lhe será dado outro, senão o sinal de Jonas... E assim o Filho do homem estará por três dias e três noites no coração da Terra." Não vos lembrais? "O Filho do homem está para ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão, mas no terceiro dia ressurgirá." Não vos lembrais? "Destruí este Templo do Deus verdadeiro, e Eu, depois de três dias o reerguerei." O Templo era o Corpo dele, ó homens. [...]
     [...]
     [...] Pai, tem piedade dos que não têm fé! Dá-lhes, Pai Santo, dá-lhes por esta vítima sacrificada e por mim, vítima que se sacrifica ainda, dá-lhes a tua fé aos que não têm fé!"
     [...]
     A Mãe se arruma. Ela infunde respeito. Estende, pela última vez os pobres dedos exangues, e leva a mão inerte para o lado do cadáver. Depois, Ela abaixa os braços para o chão, e, bem aprumada, com a cabeça levemente virada, Ela reza e oferece. Não se ouve nenhuma palavra. Mas, por seu aspecto, compreende-se que Ela está rezando. É verdadeiramente a sacerdotisa ao altar, a sacerdotisa no ato do ofertório: "Oferecemos estes teus dons, que a nós foram dados, como uma vítima pura, uma vítima santa, uma vítima sem mancha..."
     Depois Ela se vira: "Podeis fazer. Mas ele ressurgirá. É inútil que desconfieis do que eu digo, e fiqueis cegos diante da verdade, que Ele vos disse. É inútil que Satanás tente armar ciladas contra a minha fé. Para redimir o mundo falta ainda a tortura a ser dada ao meu coração por Satanás, que acabará sendo vencido. Eu estou passando agora por ela, e a ofereço pelos que vierem depois de mim. Adeus, meu Filho! Adeus... Santo... Bom... Amantíssimo! Amável... Beleza... Alegria.... Fonte de Salvação... Adeus... Aos teus olhos... Aos teus lábios... aos teus cabelos dourados... aos teus membros gelados... Ao teu coração traspassado... recebe o meu beijo... o meu beijo... Adeus... Adeus... Senhor! Tem piedade de mim!" (p. 136-146)
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Décimo Quarto Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
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Décima Quinta Estação
† 
A Ressurreição

V/. Adoramus Te, Christe, et benedicimus Tibi  [ † Nós Te adoramos e bendizemos ó Jesus]
R/. Quia per sanctam Crucem Tuam redemisti mundum  [Porque pela Vossa Santa Cruz remiste o mundo] 

     No céu, como está agora do lado oriente, formou -se uma faixa toda rosada, que pouco a pouco vai crescendo no céu sereno aonde por enquanto não chegou nenhum raio do sol, aparece, vindo de profundezas desconhecidas, um meteoro muito brilhante, que vem descendo, como uma boIa de fogo de um esplendor insuportável [...].
     Os guardas levantam a cabeça, espantados, também porque, junto com aquela luz, ouve-se um estrondo muito forte, mas cheio de harmonia [...]. É o aleluia, o glória dos anjos que acompanha o espírito do Cristo, que volta em sua carne gloriosa.
     O meteoro desce sobre o inútil fechamento do sepulcro, o desfaz, o enterra, e fulmina de terror e com fragor os guardas lá colocados, como carcereiros do Dono do Universo, produzindo, com aquela sua nova volta sobre a Terra, um novo terremoto, como o havia produzido ao sair da terra, este Espírito do Senhor. [...].
     Tudo isso se faz, não em um minuto, mas numa fração de minuto [...]
     [...]
     [...] Ele se mostra esplêndido em sua veste de uma substância imaterial, sobrenaturalmente belo e majestoso [...]. Está tão diferente de tudo o que nossa mente possa esperar ver. Ele está tão bem arrumado, que nele não se vêem feridas nem sangue, mas somente uma luz fulgurante, que sai a jorros das cinco chagas e emana de todos os poros de sua epiderme.
     [...] então, realmente é a Luz que tomou um corpo.
     Não é a pobre luz desta Terra, não é a pobre luz dos astros, não é a pobre luz do Sol. Mas é a Luz de Deus: todo o fulgor do Paraíso, que se reúne em um só Ser [...].
     Quando Ele se move de um lugar para outro, indo no rumo da saída, e os olhos podem ver para lá dos seus fulgores, eis que umas luminosidades belíssimas, mas parecidas a estrelas, sem comparação com o sol, aparecem-me uma de lá e outra de cá, prostradas em adoração ao seu Deus, que vai passando envolvido em sua luz [...].
     [...]
     [Jesus Ressuscitado aparece à Mãe]
     Maria agora está prostrada com o rosto por terra. [...]
     A janela fechada se abre, com um barulhento abalo dos pesados batentes, e, com o raio do sol, entra Jesus.
     Maria, que levou um susto com aquele barulho, levantou a cabeça para ver de que lado veio o vento que moveu os batentes, e vê seu Filho irradiando luz: Ele está belo, infinitamente mais belo do que antes de ter padecido, sorridente, vivo, luminoso mais do que o sol, vestido de um branco que parece uma luz tecida, e que vem andando para o lado dela.
     Ela se põe de joelhos e ajuntando as mãos cruzadas sobre o peito, diz com um soluço, que é de sorriso, e pranto: "Senhor, meu Deus!" E fica assim arrebatada, ao contemplá-lo com o rosto banhado em lágrimas, mas que ficou sereno, acalmado em seu sorriso e pelo êxtase.
     Mas Ele não quer vê-la assim, sendo Ela a sua Mãe, de joelhos, como uma serva. Por isso, a chama, estendendo-lhe as mãos, de cujas feridas saem raios que fazem ficar mais luminosa a sua Carne gloriosa, e lhe diz: "Minha Mãe" mas já não é mais a palavra aflita dos colóquios e das despedidas de antes da Paixão, nem são como aquela lamentação dilacerante do encontro sobre o Calvário e a da agonia. Mas um grito de triunfo, de libertação, de festa, de amor, de gratidão. E Ele se inclina sobre sua Mãe, e lhe põe as mãos por baixo dois cotovelos dobrados, e a põe de pé, aperta-a sobre o coração, e a beija.
     [...]
     "Tudo está acabado, minha Mãe. Agora não tens mais que chorar por teu Filho. A prova terminou. A Redenção chegou. Minha Mãe, obrigado por me teres concebido, criado, ajudado na vida e na morte. Eu ouvi quando chegaram a Mim as tuas orações. Elas foram a minha força na dor, as minhas companheiras na minha viagem sobre a Terra e para lá da Terra. Elas me acompanharam na Cruz e no Limbo. Elas eram o incenso que ia à frente do Pontífice, que ia chamar os seus servos para levá-los ao Templo que não morre: ao meu Céu. [...]
     [...]
     Agora Eu vou para o Pai com a minha veste humana. O Paraíso precisa ver o Vencedor em sua veste de Homem, com a qual Ele venceu o Pecado do Homem. Mas depois, Eu voltarei ainda. Eu devo confirmar na Fé os que não crêem ainda e que precisam crer para levarem os outros a crer. [...]
     Depois Eu subirei ao Céu. Mas Eu não te deixarei sozinha, Minha Mãe. Estás vendo aquele véu? Eu, no meu aniquilamento, usei ainda do poder de fazer um milagre para Ti, a fim de dar-te algum conforto. Mas para Ti Eu vou fazer um outro milagre. Tu me terás no Sacramento, tão real, como quando Tu me levavas contigo. Nunca estarás sozinha. Nestes dias passados, Tu ainda estiveste. Mas, para minha Redenção, era necessária também esta dor. Muitas coisas andam continuamente juntas com a Redenção, porque muitas coisas de pecado serão continuamente criadas. Eu chamarei todos os meus servos para esta co-participação redentora. Tu és aquela que, sozinha, farás mais do que todos os santos juntos. Por isso é que era necessário também esse longo abandono.
     Mas agora não o é mais. Eu não estou separado do Pai. Tu não estarás, separada do Filho. E, tendo o Filho, tens a nossa Trindade. Como um Céu vivo, Tu levarás por sobre a Terra a Trindade entre os homens, e santificarás a Igreja, Tu, a Rainha do Sacerdócio, e Mãe dos Cristãos. Depois Eu virei para levar-te. E não serei mais Eu em Ti, mas Tu em Mim, no meu Reino, a fim de tornar mais belo o Paraíso. Agora Eu me vou, minha Mãe. Vou para fazer feliz a outra Maria [Madalena]. Depois subirei ao Pai. E de lá Eu virei aos que não crêem.
     Minha Mãe. Dá-me o teu beijo como benção. E que a minha Paz seja a tua companheira. Adeus.”
     E Jesus desaparece no sol, cujos raios descem a jorro do céu, nesta manhã serena. (p. 217-223)
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Décimo Quinto Mistério:
Eterno Pai, Eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. (1x)
Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. (10x)
Ó Sangue e Água que jorrastes do Coração de Jesus como fonte de misericórdia para nós, eu confio em Vós. (1x)
[Conclusão do Rosário da Divina Misericórdia]
Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro. (3x)
Misericórdia Divina, fonte de milagres e prodígios, eu confio em Vós. (3x)
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[1] VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002, v. 10 (no presente trabalho, as páginas do volume 10, correspondentes aos trechos transcritos, estão indicadas no texto).

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