sábado, 27 de outubro de 2012

O porque das revelações a Maria Valtorta

     Neste artigo, reproduzimos trecho do último capítulo do volume X da obra onde Maria Valtorta reproduz as revelações que lhe foram feitas por Jesus e por Nossa Senhora.
     A tradução do décimo volume para o português é ruim, mas os trechos foram transcritos assim como se encontram na obra (com algumas correções ortográficas). Contudo, há trechos em que, dada a dificuldade ou a indução a erro na compreensão, recorremos à edição em inglês (vide notas).
     Neste último capítulo da obra, Jesus esclarece a razão pela qual fez as revelações, destacando-se, notadamente, o seu amor para com a Igreja e o desejo de ajudar as almas em sua subida para a perfeição. 
O porque é que vós estais perecendo, e Eu vos quero salvar
“E, se Eu quis comprazer-me em reconstruir o quadro da minha divina Caridade, assim como faz um restaurador de mosaicos, que quer recolocar as peças estragadas, ou que faltavam, restituindo assim ao mosaico sua completa beleza, assim Eu me reservei o trabalho de fazer isso neste século no qual a Humanidade se precipita no rumo do abismo das trevas do horror, e podeis vós evitar que Eu o faça? Podeis por acaso, dizer que não há necessidade disso, vós que tendes um espírito tão, nublado, tão surdo, enlanguescido, diante das luzes, das vozes e dos convites do Alto?
"Tomai, tomai esta obra", mas não a seleis. E, sim, lede-a, fazei que leiam. Porque o tempo está chegando (João, Apocalipse, 22, 10) e quem é santo, faça-se mais santo ainda."
     O texto é longo, mas foi mantida em sua integralidade para aqueles que quiserem mergulhar na sua profundidade. Destaquei as partes para mim mais marcantes.
     O que abaixo se apresenta não se resume a uma explicação da razão e do conteúdo das revelações feitas a Maria Valtorta, mas denota um verdadeiro alerta e clamor à conversão e à santificação.
     Fiquem com Deus,
     Francisco José
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      652. Despedida da obra.
      [28 de abril de 1947]
     Diz Jesus:
     "As razões que me moveram a iluminar e a ditar episódios e palavras minhas ao pequeno João [forma como Jesus se refere a Maria Valtorta em várias partes da obra], além da alegria de comunicar um exato conhecimento de Mim a esta alma-vítima e amorosa, são multíplices. Mas, entre todas elas, a alma delas é o meu amor para com a Igreja, tanto a docente, como a militante, e o desejo de ajudar as almas em sua subida para a perfeição. O conhecimento de Mim é uma ajuda para a subida. A minha Palavra é Vida. E Eu nomeio as principais:
     I. As razões ditas no ditado de 18 de janeiro de 1947, que o pequeno João colocará aqui integralmente. Esta é a razão maior: o porque é que vós estais perecendo, e Eu vos quero salvar.
     3 de fevereiro de 1947.
     Diz Jesus:
     "A razão mais profunda do presente que Eu faço com esta obra é porque nestes tempos, nos quais o modernismo, condenado pelo meu Santo Vigário Pio X, se deteriora cada vez mais, apresentando doutrinas sempre mais perniciosas, a Santa Igreja, representada pelo meu Vigário, tenha matéria para mais combater contra aqueles que negam:
     a sobrenatumlidade dos dogmas;
     a divindade de Jesus Cristo;
     a verdade de Cristo ser Deus e Homem, real e perfeito, tanto na fé como na história que sobre Ele nos foi transmitida (pelo Evangelho, pelo livro Atos dos Apóstolos, pelas Epístolas apostólicas e pela tradição);
     a doutrina de Paulo e de João e a dos Concílios de Nicéia, Éfeso, Calcedônia, como minha verdadeira doutrina, por Mim verbalmente ensinada; minha ciência ilimitada, por ser divina e perfeita;
     a origem divina dos dogmas, dos Sacramentos da Igreja Una, Santa, Católica e Apostólica;
     a universalidade e continuidade do Evangelho por Mim ensinado, e para todos os homens;
     a natureza perfeita, desde o começo da minha doutrina e que não se formou até ser o que é, através de sucessivas transformações, mas nos foi dada assim: Doutrina de Cristo, do tempo de Graça, do Reino dos Céus e do Reino de Deus em vós, divina, perfeita, imutável, uma boa nova para todos os que tem sede de Deus.
    
Ao dragão vermelho com sete cabeças, dez chifres e sete diademas na cabeça, que com a cauda arrasta atrás de si a terça parte das estrelas do Céu, e as faz precipitar, e em verdade Eu vos digo que elas se precipitam ainda mais baixo, do que sobre a terra e que ele persegue a Mulher. As Feras do Mar e da Terra, que muitos, demais adoram e que ele persegue a mulher. As Feras do mar e da terra, que muitos demais adoram, seduzidos como estão pelos seus aspectos e prodígios, oponde o meu Anjo que voa pelo meio do Céu, segurando o Evangelho Eterno, bem aberto, até nas páginas até agora fechadas, para que os homens possam salvar-se por sua luz das espiras da grande serpente das sete fauces, que os quer sufocar em suas trevas, e à minha volta, eu reencontrei ainda a fé e a caridade no coração dos que perseverarem, e sejam eles mais numerosos do que a obra de Satanás, e dos homens não nos dão uma idéia do que possam ser.
     II. Despertar nos Sacerdotes e nos leigos um vivo amor ao Evangelho e a tudo que se refere ao Cristo. A primeira entre todas as coisas, há de ser uma renovada para com minha Mãe, nas orações, nas quais está o segredo da salvação do mundo. Ela, a minha Mãe, é a vencedora do dragão maldito. Ajudai ao poder dela, dedicando-lhe, dedicando-lhe um renovado amor, e, com uma fé também renovada, e procurando conhecer tudo o que a Ela se refere. Foi Maria que deu ao mundo o Salvador. E o mundo ainda terá por meio dela a Salvação.
     III. Dar aos mestres do espírito e diretores de almas uma ajuda ao seu ministério, estudando o mundo dos diversos espíritos, que se agitam ao redor de Mim, e dos diversos modos por Mim usados para salvá-los. Porque seria uma tolice querer-se ter um método único para todas as almas. Diferente é o modo de atrair à Perfeição um justo, que espontaneamente já se inclina para ela, do modo que se haverá de usar com um que tem fé, daquele que é pecador, e o que se haverá de usar com um pagão. Vãs [Vós os] tendes muitos, até entre vós, se chegardes a julgar, como o vosso Mestre, serem gentios aqueles que apenas são uns pobres seres que substituíram pelo poder e a prepotência, uns o ouro, outros a luxúria, ou a soberba, ou o seu saber, o verdadeiro Deus. E diferente é o método que se haverá de usar para salvar os modernos prosélitos, isto é, aqueles que aceitarão a ideia cristã, mas não junto com uma cidadania cristã, pertencendo eles a Igrejas separadas. Ninguém seja desprezado, e essas ovelhas dispersas, menos ainda. Amai-as, e procurai reconduzi-las ao Ovil Único, para que o desejo do Pastor Jesus se cumpra.
     Alguns objetarão, ao lerem esta Obra: "Não se lê no Evangelho que Jesus tenha tido contatos com os romanos ou gregos, e por isso rejeitamos aquelas páginas." Quantas coisas não constam no Evangelho, ou transparecem apenas por detrás de espessas cortinas de silêncio, deixadas cair pelos evangelistas, sobre episódios que pela inquebrantável mentalidade dos hebreus, eles não aprovavam! Credes vós que conheceis tudo o que Eu fiz?
     Em verdade, Eu vos digo que nem mesmo depois de terdes lido e aceitado esta ilustração sobre minha vida pública, ficais conhecendo tudo a respeito de Mim. Teria Eu apressado a morte, por causa do cansaço, do cronista de todos os dias do meu ministério, e de todas as ações realizadas em cada um daqueles dias, o meu pequeno João, se Eu o tivesse feito conhecer tudo, a fim de vos transmitir tudo! Pois bem. “Há outras coisas feitas por Jesus, que, se tivessem que ser escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se haveria de escrever", diz o João. Deixando de lado a hipérbole, na verdade Eu vos digo que, se devessem ser escritas todas as minhas lições particulares, as minhas penitências e orações para salvar uma alma, seriam necessárias as salas de uma de vossas bibliotecas, e uma das maiores, para conterem os livros que falam de Mim. E também em verdade Eu vos digo que seria muito mais útil para vós jogar no fogo tanta ciência inútil, poeirenta e venenosa, a fim de dar lugar aos meus livros, do que ficar sabendo tão pouco sobre Mim e ficar adorando tanto aquela imprensa, quase sempre suja de sensualidade ou de heresia.
     IV. Restituir à sua verdade as figuras do Filho do Homem e de Maria, verdadeiros filhos de Adão, pela carne e pelo sangue, mesmo ainda de um Adão inocente. Como nós devíamos ser os filhos do Homem, se o Progenitor e a Progenitora não se tivessem rebaixado de sua perfeita humanidade, isto é, de ser homem, ou seja, de ser uma criatura, na qual está a dupla natureza: a espiritual, feita à imagem e semelhança de Deus, e a material, como vós sabeis que eles procederam. Eles tinham sentidos perfeitos, isto é, submissos à razão, pois por ela se revelava neles uma grande acuidade. Quanto aos sentidos, Eu incluo também os morais, junto com os corporais. Portanto um amor completo e perfeito, amor ao esposo, ao qual não era a sensualidade que a unia, mas somente o vínculo de um amor espiritual, e para com o Filho muito amado. Amado com toda a perfeição de uma mulher perfeita para com a criatura nascida dela. Do mesmo modo como Eva devia ter amado a criatura dela nascida. Foi assim que Eva deve ter amado: como Maria, isto é, não por aquele gozo carnal é que ele era filho, mas porque aquele filho era filho do Criador e da obediência cumprida à sua ordem de multiplicar a espécie humana. E amado com todo o ardor de uma perfeita fiel, sabendo que ele é seu filho, não de um modo figurado, mas realmente Filho de Deus.
     Aqueles que julgam amoroso demais o amor de Maria a Jesus, Eu digo que considerem bem quem era Maria, a Mulher sem pecado e, por isso, sem defeitos em sua caridade para com Deus, para com seus pais, para com o esposo, para com o Filho, para com o próximo, ao considerar que é que a mãe via em Mim, além de ver o Filho de seu seio e finalmente considerar qual a nacionalidade de Maria. Ela era de raça hebréia, uma raça oriental e de tempos muito anteriores aos atuais. Por isso, desses elementos é que brota a explicação de certas amplificações verbais de amor, que a vós podem parecer exageradas. Um estilo florido e pomposo, até conversações comuns, e o estilo oriental e hebraico. Todos os escritos daquele tempo daquela raça disso são uma prova, e nem o correr dos séculos conseguiu mudar muito o estilo do oriente.
     Pretenderíeis que, porque vós, vinte séculos depois, e quando a perversidade da vida matou o grande amor, deveis, ao examinar estas páginas, que Eu vos desse uma Maria de Nazaré igual à árida e superficial como é a do vosso tempo? Maria é o que é, e não se troca a doce, pura, amorosa Menina de Israel, Esposa de Deus, Mãe virginal de Deus, por outra excessivamente, doentiamente exaltada, ou por uma glacialmente egoísta mulher do vosso século.
     Àqueles que julgam amoroso demais o amor de Jesus por Maria, Eu digo que Eu, Jesus, era Deus, e que Deus Uno e Trino gozava de todo o conforto, ao amar Maria, Aquela que lhe dava uma reparação pela dor de toda a raça humana, o meio pelo qual Deus pudesse tornar a gloriar-se de sua Criação, que forma os cidadãos para os seus Céus. E finalmente considerem que todo amor se torna culpável quando e somente quando cria uma desordem, isto é, quando vai contra a vontade de Deus e deixa de cumprir o seu dever.
     Agora considerai bem: o amor de Maria fez isso? O meu amor fez isso? Será que Ela me entreteve com um amor egoísta, para Eu não cumprir toda a vontade de Deus? Terei eu, por uma amor desordenado, renegado talvez à minha missão? Não. Um e outro amor tiveram o mesmo desejo: que se cumprisse a vontade de Deus para a salvação do mundo. E a Mãe disse todos os adeuses ao Filho, e o Filho disse todos os adeuses à Mãe, para entregar o Filho do magistério público, e à Cruz do Calvário, entregando a Mãe à solidão e à angústia, para que Ela fosse a Co-redentora, sem levar em conta a nossa humanidade, que se sentia dilacerada, nem o nosso coração que se despedaçava pela dor. Será isso uma fraqueza? Um sentimentalismo? Um amor perfeito, ó homens que não sabeis amar, e não compreendeis mais o amor as suas vozes!
     E esta obra tem por escopo iluminar uns pontos que um complexo de circunstâncias cobriu de trevas e que agora forma faixas escuras dentro da luminosidade do quadro evangélico e há pontos que parecem fraturas e não são mais do que pontos escuros, entre um episódio e outro, são pontos indecifráveis e que no poder de decifrá-los é que está a chave para se compreender exatamente certas situações, que se haviam formado e certas atitudes fortes, que Eu tinha devido tomar em contraste com as minhas exortações contínuas ao perdão, a mansidão e a humildade, certos enrijecimentos para com os teimosos e os adversários inconvertíveis. Lembrai-vos de que Deus, depois de ter usado toda a sua misericórdia, para honra de Si mesmo, sabe também dizer "Basta!" àqueles que, porque Ele é bom, creem ser lícito abusar de sua longanimidade, e tentá-lo. Com Deus não se brinca. É uma palavra antiga e sábia esta.
     V. Conhecer exatamente a complexidade e duração da minha longa Paixão, a qual culmina na Paixão cruenta completada em poucas horas, mas que me havia maltratado em um tormento quotidiano, que durou lustros e lustros, e que foi sempre aumentando, e, com a minha, a paixão da mãe, a qual a espada da dor transfixou o coração, durante um tempo igual. Elevar-vos, pelo conhecimento disso, a amar-vos mais.
     VI. Demonstrar o poder de minha Palavra e os efeitos diversos da mesma, sob a condição de que quem a recebesse pertencesse à fileira dos homens de boa-vontade, ou a daqueles, entre eles, que tinham uma vontade sensual, que nunca é reta.
     Os Apóstolos e Judas. Aí estão dois exemplos opostos. Os primeiros, imperfeitíssimos, rústicos, ignorantes, violentos, mas tinham boa vontade. Judas, douto mais do que a maioria deles, refinado pela sua vida na Capital e no Templo, mas de má vontade. Observai a evolução dos primeiros no Bem, e sua subida.
     Essa evolução na perfeição dos Onze bons deve ser observada acima de tudo por aqueles que, por uma visível falha mental, estão acostumados a perverter a natureza da realidade dos santos, fazendo do homem que atinge a santidade por meio de uma dura, muito dura luta contra  poderosas forças obscuras, um ser natural, sem estímulos e emoções e, portanto, sem méritos[1]. Um ser desnaturado, sem concupiscência e sem arrepios, e, portanto, sem méritos. Porque o mérito vem justamente da vitória sobre as paixões desordenadas e as tentações, vitória conseguida por amor a Deus, e para conseguir o último fim: gozar de Deus para sempre.
     Que observem isto aqueles que pretendem que o milagre da conversão deva vir só de Deus. Deus dá os meios para converter-se, mas Ele não violenta a vontade do homem, e, se o homem não quer converter-se, inutilmente terá o que ao outro serve para a conversão.
     Considerem aqueles que examinam os múltiplos efeitos da minha Palavra, não somente sobre o homem humano, mas também sobre o homem espiritual. E não só sobre o homem espiritual, mas também sobre o homem humano. A minha Palavra, recebida com boa vontade, transforma um e o outro, conduzindo-os à perfeição externa e à interna.
     Os apóstolos que por sua ignorância e por minha humildade tratavam o Filho do homem com uma confiança excessiva um bom mestre entre eles, e nada mais, um mestre humilde e paciente, com o qual era lícito tomar liberdades, às vezes excessivas. Mas isso, feito por eles, não era uma falta de respeito, mas uma ignorância, e por isso está desculpada, os apóstolos, briguentos entre si, egoístas, ciumentos no seu amor e do meu amor, impacientes com o povo, um pouco orgulhosos de serem "os apóstolos", ansiosos por verem tudo o que causa admiração ao povo, como os milagres feitos por Jesus, que os fazem ser vistos como uns dotados de um poder extraordinário e, devagar mas continuamente, se vão transformando em homens novos, que antes dominam as suas paixões, a fim de Me imitarem, e Me fazem ficar contente, depois que eles, conhecendo sempre mais o meu verdadeiro Eu, mudando os modos e o amor, até Me verem, Me amarem e Me tratarem como Senhor divino. São eles talvez o termo desta minha vida sobre a terra ainda aqueles companheiros superficiais e alegres dos primeiros tempos? Eles o são, sobretudo depois da Ressurreição, os amigos que tratam o Filho do Homem como Amigo? Não. Primeiro eles são ministros do Rei. Depois são os sacerdotes de Deus. Todos diferentes, completamente transformados...
     Considerem isto aqueles que julgarem a forte natureza dos apóstolos, como foi descrito, e julgarão isso artificial. Eu não era um doutor difícil, nem um rei soberbo, não era um mestre que julga indignos dele os outros homens. Eu soube compadecer-me das pessoas.[2] Eu quis formar usando materiais brutos, encher de perfeições de toda espécie uns vasos vazios, e mostrar que Deus tudo pode, e que de uma pedra Ele tira um filho de Abraão, um filho de Deus, e de um mestre, a fim de confundir os mestres jactanciosos de sua ciência, que, muitas vezes, perdeu o perfume da minha.
     VII. Afinal, fazer-vos conhecer o mistério de Judas, aquele mistério que [é] a queda de um espírito, que Deus tinha beneficiado extraordinariamente. Um mistério que em verdade se repete por demais freqüentemente, e que é a ferida que dói no coração do vosso Jesus.
     Fazer-vos conhecer como se cai, transformando-se de servos e filhos de Deus em demônios e deicidas, que matam a Deus neles, matando a Graça para impedir-vos de pôr o pé sobre os caminhos, dos quais se cai no abismo, e para ensinar-vos o que fazer, para ver como se há de entreter os cordeiros imprudentes que se atiram no abismo. Aplicai a vossa inteligência em estudar a horrenda e, no entanto, comum figura do Judas, complexo este no qual se agitam como uma serpente todos os vícios capitais, que vós achais e tendes de combater nisto ou naquilo. É a lição que deveis especialmente aprender, pois ela será a que vos vai ser mais útil no vosso magistério de mestres do espírito e de diretores de almas. Infelizmente quantos há que, em todos os estados da vida, imitam ao Judas, entregando-se a Satanás, e encontrando a morte eterna.
     Sete razões, como sete são as partes:
     I. Pré-Evangelho (da Concepção Imaculada de Maria Sempre Virgem, até à Morte de São José).
     II. Primeiro ano da vida pública.
     III. Segundo ano da vida pública.
     IV. Terceiro ano da pública.
     V. Pré-Paixão (do Tebet até o Nisã, ou seja, da agonia de Lázaro até a ceia de Betânia).
     VI. Paixão (do adeus a Lázaro até a minha Sepultura e os dias seguintes até a aurora da Páscoa).
     VII. Da Ressurreição até o Pentecostes.
     Seja conservada esta divisão das partes como Eu aqui indico, pois esta é a justa.
     E agora? Que é que dizeis ao vosso Mestre? Não faleis a Mim, mas falai em vosso coração. E, se tiverdes facilidade em fazê-lo, falai ao pequeno João. Mas, em nenhum dos dois casos, falai com aquela justiça que Eu gostaria de ver em vós. João vós falais para fazê-lo sofrer, e estareis faltando com a caridade para com a cristã, a coirmã, o instrumento de Deus. Em verdade, Eu vos digo, ainda mais uma vez, que não é uma tranqüila alegria ser instrumento meu: é um cansaço e esforço contínuos, em tudo há dor, e seria necessário que pelo menos os sacerdotes, e especialmente os coirmãos, ajudassem a esses pequenos mártires, que vão para a frente, debaixo de uma cruz. E, porque no vosso coração, falando a vós mesmos, tendes um lamento de soberba, de inveja, de incredulidade, e outros. Mas Eu vos darei resposta às vossas lamentações, e aos vossos espantos de escandalizados.
     Na tarde da última Ceia, aos onze que me amavam Eu disse; "Quando o Espírito Consolador tiver vindo, Ele vos fará lembrar de tudo o que Eu vo-lo disse." Quando Eu falava, tinha sempre presente, além dos presentes, todos aqueles que teriam sido meus discípulos no espírito e de verdade, e com vontade de querer. O Espírito Santo, que já com sua graça infunde em vós a faculdade de querer lembrar-vos de Deus, afastando as almas do desvario da Culpa Original, e livrando-as dos ofuscamentos que, pela triste herança de Adão, ofuscam a luminosidade dos espíritos criados por Deus para gozar da visão e do conhecimento espiritual, completa sua obra de Mestre “relembrando” os corações daqueles que são guiados por Ele e que são os filhos de Deus, de tudo o que eu disse, e que constitui o Evangelho.[3]
     E lembrar-se aqui significa deixar-se iluminar pelo espírito dele. E assim conduzidos, os que são filhos de Deus, pois nada vale recordar as palavras do Evangelho, se não se compreende o espírito delas. O espírito do Evangelho, que é amor, pode tornar-se compreensível pelo Amor, isto é, pelo Espírito Santo, o Qual, assim como foi o verdadeiro escritor do Evangelho, é também o único Comentador, pois só o autor de uma obra sabe o espírito dela, e o compreende, ainda que não consiga fazê-lo compreender aos leitores da mesma. Mas, onde não consegue um autor humano, porque toda feição humana é rica em defeitos, aí chega o Espírito Santo, autor do Evangelho, e é Ele que também o recorda, comenta e completa profundamente para as almas dos filhos de Deus.
     Consolador, o Espírito Santo, que o Pai vos mandará em meu Nome, vos ensinará todas as coisas, vos fará lembrar-vos de tudo o que Eu disse (João 14, 26).
     Quando, pois, tiver vindo aquele Espírito da Verdade, Ele vos ensinará toda a Verdade. Ele não vos falará por Si mesmo, mas dirá tudo aquilo que ouviu e vos anunciará o que está por vir. Ele me glorificará porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso é que Eu disse, que Ele receberá do que é meu, e vo-lo ensinará. (João 16, 13-15)
      Porque se vós objetais que, sendo o Espírito Santo o Autor verdadeiro do Evangelho, não se compreende que Ele não se tenha lembrado de tudo o que nesta obra foi dito e de tudo o que João diz que aconteceu, naquelas palavras do fim do Evangelho com que Ele termina o seu Evangelho: Eu vos respondo que os pensamentos de Deus são diferentes dos homens, mas são sempre justos e insindicáveis.
     E ainda: se objetais que a revelação terminou com o último dos apóstolos e que não havia nada mais a acrescentar, porque o próprio apóstolo diz no Apocalipse: "Se alguém de vós acrescentar alguma coisa, Deus porá sobre ele as pragas escritas neste livro." (João 22, 18) e isso pode ser entendido em toda a revelação, da qual o Apocalipse de João é o último coroamento, Eu vos respondo que esta obra nada acrescentada à revelação,[4] mas que foram preenchidas as lacunas produzidas por causas naturais e desejos sobrenaturais. E, se Eu quis comprazer-me em reconstruir o quadro da minha divina Caridade, assim como faz um restaurador de mosaicos, que quer recolocar as peças estragadas, ou que faltavam, restituindo assim ao mosaico sua completa beleza, assim Eu me reservei o trabalho de fazer isso neste século no qual a Humanidade se precipita no rumo do abismo das trevas do horror, e podeis vós evitar que Eu o faça? Podeis por acaso, dizer que não há necessidade disso, vós que tendes um espírito tão, nublado, tão surdo, enlanguescido, diante das luzes, das vozes e dos convites do Alto?"
     Em verdade, vós deveríeis falar bem de Mim, pois Eu, com novas luzes, aumentei as luzes que já tínheis, mas que vos era bom, suficiente para "ver" o vosso Salvador. Ver a Vida, a Verdade o Caminho, e sentirdes ressurgir em vós aquela comoção espiritual dos justos do meu tempo, chegando através deste conhecimento a uma renovação dos vossos espíritos no amor, que seria para vós salvação, visto que se eleva para a perfeição.
     Eu não digo que sois uns "mortos", mas adormecidos, sopitados, dominados pelo sono, semelhantes às plantas, durante o sono do inverno. O Sol divino vos está mandando os seus fulgores.
     Despertai! E bendizei a este Sol que se doa, e acolhei-o com alegria, a fim de que vos aqueça, desde a superfície até à profundidade, e vos acorde, vos cubra de flores e de frutos. Levantai-vos, vinde ao meu presente. "Tomai e comei. Tomai e bebei", Eu disse aos apóstolos.
     "Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é que te está dizendo: "Dá-me de beber", tu mesma terias pedido água a Ele, e Ele te teria dado a "água viva" como Eu disse à Samaritana.
     Eu o digo ainda agora, tanto aos doutores, como aos samaritanos. Porque ambas estas classes extremas têm necessidade dele, e necessidade têm aqueles que estão entre os dois extremos, os primeiros para não ficarem desnutridos e despojados de forças até para se moverem a si mesmos, e de uma nutrição sobrenatural para os que estão sofrendo pela falta do conhecimento de Deus, do Homem-Deus, do Mestre e Salvador. E os segundos, porque suas almas têm necessidade de água viva, quando estão perecendo longe das fontes. Aqueles que estão no meio, entre os primeiros e os segundos, a grande massa dos que não tem pecados graves, mas também os extáticos, que não progridem, ou por preguiça ou por tibieza, por algum conceito errado sobre o que é a santidade, aqueles que são escrupulosos em seu medo de se condenarem, ou de serem observantes, a fim de não se enredarem em um labirinto de práticas superficiais, mas não ousam dar um passo sobre o caminho íngreme muito difícil da heroicidade, para que com esta prática, recebam o empurrão inicial, a fim de saírem de sua modorra e recomeçarem pelo caminho heróico.
     Eu vos digo estas palavras. E vos ofereço este alimento e esta bebida que é uma água viva. A minha Palavra é Vida. E Eu vos quero na vida, comigo. E multiplico a minha palavra, a fim de contrabalançar os miasmas de Satanás, que destroem em vão as forças vitais do espírito.
     Não Me rejeiteis. Eu tenho sede de dar-me a vós. Porque Eu vos amo. Esta é a minha inextinguível sede. Tenho o ardente desejo de comunicar-me convosco. A fim de tornar-vos prontos para o banquete das núpcias celestes. E vós tendes necessidade de Mim, para não vos enfraquecerdes, para poderdes vestir-vos com uma veste ornada para as núpcias do Cordeiro, para a grande festa de Deus, depois de terdes superado a tribulação, neste deserto cheio dias, espinheiros e serpentes, que é esta terra, a fim de passar por entre répteis ter, que beber venenos sem morrer, tendo-vos em Mim. E ainda vos digo: "Tomai, tomai esta obra", mas não a seleis. E, sim, lede-a, fazei que leiam. Porque o tempo está chegando (João, Apocalipse, 22, 10) e quem é santo, faça-se mais santo ainda."
     A Graça do Senhor vosso Jesus Cristo esteja com todos aqueles que neste livro vêem um aproximar-se de Mim e solicitam que se cumpra para sua defesa, com este grito de amor: Vem, Senhor Jesus.
     A mim em particular Jesus disse: Como prêmio da Obra colocarás o primeiro capítulo do Evangelho de João, do versículo primeiro até o versículo 18 inclusive. Assim integralmente como está escrito. João escreveu estas palavras, como tu escreveste todas aquelas reportadas na Obra, sob o ditado do Espírito de Deus. Não há nada que acrescentar, nem o que tirar, na oração do Pai-Nosso nem na minha oração depois da última Ceia. Cada palavra nesses pontos é uma jóia divina e não há de ser alterada. Não há para esses pontos outra coisa a fazer, senão uma coisa: rezar ardentemente ao Espírito Santo que vo-las ilumine em toda a sua beleza e Sabedoria.
     Quando, pois, chegares ao ponto em que começa a minha vida pública, copiarás também inteiramente o primeiro capitulo de João, do versículo 1 ao 18 inclusive, e o capítulo terceiro de Lucas, do versículo 3 ao 18 inclusive, um atrás do outro, como se formassem um só capítulo. Nesta passagem está todo o Precursor, asceta de poucas palavras e de uma dura disciplina, e não há mais nada a dizer. Depois colocarás o meu Batismo, e irás para diante, como Eu disse para cada vez.
     E o teu cansaço terminou. Agora o que continua é o amor e a recompensa que se há de gozar.
     Alma minha, que é que Eu te deveria dizer? Tu me perguntas, com este teu espírito preocupado comigo: "E agora, que é que irás fazer, Senhor, com esta tua serva?" Eu poderia dizer-te: "Eu vou quebrar o vaso de argila, para tirar dele a essência, e levá-la para onde Eu estou." E seria uma alegria para nós dois. Mas ainda me és necessária, por um pouco de tempo, e outro pouco ainda aqui, para fazer que emanem os teus perfumes, odor de Cristo, que em ti habita. E, então, eu te direi, como ao João: Se eu quero que você fique até que eu venha buscá-la, o que é que te importa ficares?[5]
     Paz a ti, pequena minha, minha voz incansável. Paz a ti. Paz e bênção. O Mestre te diz; "Obrigado." O Senhor te diz: "Sê bendita". Jesus, o teu Jesus, te diz: "Eu sempre estarei contigo, porque para mim é doce estar com aqueles que me amam."
     A minha paz, pequeno João. Vem e repousa sobre o meu Peito."
     E, com estas palavras, terminaram todas as sugestões para a redação da Obra e dadas as ultimas explicações.
     Viareggio, 28 de abril de 1947
     Maria Valtorta.
     [Valtorta, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 10. p. 498-509] (grifos e destaques nossos)



[1] Este trecho foi traduzido da edição em inglês: “This evolution in perfection of the Eleven good ones should be watched above all
by those who, through a visual mental fault, are accustomed to perverting the nature of  the reality of saints, making of the man who reaches holiness by means of a hard, very hard struggle against heavy obscure powers, an unnatural being without incentives and emotions, and therefore without merits.
  A versão em português é a seguinte: “Observai essa evolução na perfeição dos Onze bons, sobretudo a daqueles que, por um visível e defeito mental, estavam acostumados a desnaturar a realidade dos santos, fazendo do homem que atinge a santidade, como uma dura, duríssima luta contra as forças poderosas e tenebrosas. Um ser desnaturado, sem concupiscência e sem arrepios, e, portanto, sem méritos.
[2] Traduzido do inglês: “This should be considered by those who will find the apostles' nature, which was as it is described, strong, and will judge it unnatural. I was not a difficult doctor and a proud king, I was not a master who judges other men unworthy of him. I was indulgent to people.
  Versão em português: “Considerem isto aqueles que o julgarem muito fortes, e julgarão, então, desnaturada a natureza dos apóstolos, que era como está descrita. Eu não era um doutor difícil, nem um rei soberbo, não era um mestre que julga indignos dele os outros homens. Eu soube compadecer-me dele”.
[3] Da obra em inglês: “The Holy Spirit, Who already with His Grace instils the faculty of remembering God into you, freeing souls from the hebetude of the Original Sin and relieving them of the obscurities that, because of the sad inheritance of Adam, envelop the brightness of the spirits created by God to enjoy His sight and spiritual knowledge, completes His work of Master by "reminding" the hearts of those who are led by Him and who are the children of God, of what I said, and which constitutes the Gospel.
  Texto original: “O Espírito Santo, que já com sua graça infunde em vós a faculdade de querer lembrar-vos de Deus, afastando as almas do desvario da Culpa Original, e livrando-as dos ofuscamentos que, pela triste herança de Adão, envolvem a luminosidade dos espíritos criados por Deus, para que não gozassem da vista e do conhecimento espiritual dos espíritos criados por Deus, a fim de que gozasse dela, e completa sua obra de Mestre, fazendo que se lembrem de tudo o que Eu disse e que constitui o Evangelho.
[4] A tradução do presente trecho, para o português, está errada. No vernáculo, o trecho transcrito (que seria uma heresia) é o seguinte: “Eu vos respondo com esta obra acrescentada à revelação [...]”. Todavia, diverge da tradução para o inglês, que é a correta: “I reply to you that with this work no addition was made to revelation, but only the gaps, brought about by natural causes and by supernatural will, were filled in.” (grifei)
[5]  Tradução da versão inglesa: “If I want you to stay until I come to get you, what does it matter to you to remain?
   Original: "Se Eu que são ainda o quero que tu fiques até que Eu venha para levar-te, que é que te importa ficares?"

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