segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Últimas admoestações de Jesus e ascensão ao Pai


     Neste artigo reproduzimos trecho da obra de Maria Valtorta onde se destacam as últimas lições de Cristo antes de sua ascensão ao Pai, com destaque para as condições necessárias para se receber o Espírito Santo, o importante papel de Maria na formação dos apóstolos, as profecias de Cristo acerca da Igreja futura, admoestações concernentes à pureza, à santidade, e à vitória das tribulações pelo amor.
    Também traz a Eucaristia celebrada por Jesus antes de sua ascensão, "Pois Eu vos deixei este penhor do meu amor para estar, ainda e sempre, convosco, até que estejais comigo no Céu". E termina com o lindo relato da ascensão do Senhor.

Últimas admoestações de Jesus e ascensão ao Pai
[...] rezai constantemente, é a fim de preparar-vos para a vinda do Espírito Santo, que acabará de formar-vos para a vossa missão. Lembrai-vos de que Eu, que também sou Deus, me preparei com uma severa penitência para o meu ministério de evangelizador.
Lede os profetas. Nem está tudo predito. Minha Mãe, em primeiro lugar, e depois o Espírito Paráclito vos farão compreender as palavras dos profetas para este tempo.
Então, vós levareis para outro lugar a sede desta minha Igreja querida, pois ela não deve perecer. Eu vo-lo digo: nem o Inferno poderá contra ela. Mas, se Deus vos garante a sua proteção e não tenteis ao Céu, exigindo tudo do Céu.
Mas o Espírito Santo virá [...] e vos aconselhará. O conselho de Deus, porém, é uma coisa tão sublime, que é necessário preparar-se para recebê-lo com uma vontade heróica de uma perfeição tal, que vos torne semelhantes ao vosso Pai e ao vosso Jesus, ao vosso Jesus nos seus relacionamentos com o Pai e com o Espírito Santo. Para isso, uma caridade perfeita, uma pureza perfeita são necessárias, para que se possa compreender o Amor e recebê-lo no trono do coração.
Perdei-vos no redemoinho da contemplação. Esforçai-vos para esquecerdes que sois homens e esforçai-vos para tornar-vos uns serafins.
Não tereis o Reino de Deus em vós, se não tiverdes o Amor. Porque o Reino de Deus é o Amor, aparece com o Amor e pelo Amor se instala nos vossos corações, [...] devora o homem e cria o Deus, o Filho de Deus, o meu irmão, o rei do trono, que Deus preparou para aqueles que se entregam a Deus, para terem Deus, Deus somente. Portanto, sede puros e santos pela oração ardente que santifica o homem, porque o imerge no fogo de Deus, que é a caridade.
Vós deveis ser santos. Não somente no sentido relativo, que esta palavra tinha até agora, mas no sentido absoluto [...]
A morte e a dor entraram no mundo pela inveja do demônio, mas Deus não é o autor da morte e da dor, e não goza com a dor dos viventes. Todas as coisas dele são vida e todas são de salvação.
Vós sabeis como é que se conquista o Reino dos Céus: com a força. E lá se chega, passando por muitas tribulações. Mas aquele que persevera, como Eu perseverei, irá ficar onde Eu estou. [...] Se houvesse um outro caminho, Eu vo-lo teria ensinado [...]. [...] também Eu vos digo e vos repito qual é o remédio que dá forças para percorrê-lo e entrar. É o amor. Sempre o amor. [...] E todo amor vos dará o Amor que vos ama, se vós o pedirdes em meu Nome. Um amor tão grande, que vos convertereis em atletas na santidade.
"Fazei isto em memória de Mim", acrescentando: "Pois Eu vos deixei este penhor do meu amor para estar, ainda e sempre, convosco, até que estejais comigo no Céu".
Ele se transfigura em beleza. Está mais belo do que esteve sobre o Monte Tabor. Caem todos de joelhos, adorando. E Ele, enquanto  já começa a se elevar da pedra onde estava, procura mais uma vez o rosto de sua Mãe, e o seu sorriso chega até um ponto, ao qual ninguém poderá chegar. É o seu último adeus à sua Mãe.
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638. Últimas admoestações no Getsêmani, despedida e ascensão ao Pai.

24 de abril de 1947.
      Mal a aurora começou do lado do Oriente, a tingir o céu com uma bela cor rosada, Jesus já está, com sua mãe, andando por entre os barrancos do Getsêmani. Eles não dizem palavras, mas usam somente os seus olhares, como sinais de um amor indescritível. Talvez as palavras já tenham sido ditas. Ou talvez elas nunca tenham sido ditas. Falavam as duas almas: a de Cristo e as da Mãe de Cristo. Agora é uma contemplação de, amor, uma contemplação recíproca. E quem a conhece é a natureza, coberta de orvalho e a luz da manhã. Também a conhecem as gentis criaturas de Deus, que são as ervas, as flores, os passarinhos, as borboletas. Os homens estão ausentes.

      [...]
      Afinal, a aurora chegou completamente. O sol já vai alto, e os apóstolos já fazem ouvir a sua voz. É um sinal para Jesus a Maria. Eles param. Olham-se um ao outro, Um bem defronte da Outra, e depois Jesus abre os braços e acolhe sua Mãe sobre o seu peito... Para crer nisso, basta olhar aquele adeus! O amor transborda em uma chuva de beijos sobre sua Mãe muito amada. E o amor cobre os beijos do Filho amadíssimo. Parece que não podem mais separar-se. Mas quando parece que estão para fazê-lo, um outro abraço os une ainda, e por entre beijos ouvem- se palavras de uma benção recíproca... Oh! É mesmo o Filho do Homem que está deixando Aquela que o gerou! É mesmo a mãe que se despede, para entregar ao Pai o seu Filho, o penhor do Amor à Puríssima. É Deus que beija a Mãe de Deus!
      Por fim, Mulher, como Criatura, se ajoelha aos pés de seu Deus, que é também seu Filho, e o seu Filho, que é Deus, impõe as mãos sobre a cabeça da Mãe, que é virgem, da amada desde a eternidade, e a abençoa em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e depois se inclina, e a levanta, dando-lhe um último beijo sobre aquela fronte branca como um lírio, sob o ouro daqueles cabelos, tão juvenis ainda...
      [...]
      Eles entram no quarto onde dez dias antes estavam as mulheres para a ceia do décimo quarto dia do segundo mês. Maria acompanha Jesus até lá, e depois se retira. Ficam lá Jesus e os onze.
      [...]
      Não vos afasteis de Jerusalém, durante estes dias. Lázaro, ao qual Eu falei, providenciou, mais uma vez, a fim de transformar em realidade os desejos de seu mestre, e ele vos cede a casa da última Ceia, para que tenhais uma morada na qual façais vossas reuniões, e vos recolhais em oração. Ficai lá dentro, durante estes dias e rezai constantemente, é a fim de preparar-vos para a vinda do Espírito Santo, que acabará de formar-vos para a vossa missão. Lembrai-vos de que Eu, que também sou Deus, me preparei com uma severa penitência para o meu ministério de evangelizador. Sempre mais fácil, e sempre mais breve será a vossa preparação. Mas Eu não exijo nada mais de vós. Basta-me somente que oreis assiduamente, em união com os setenta e dois, e sob a guia de minha Mãe, que eu vos recomendo com os cuidados de Filho. Ela será para vós Mãe e Mestra de amor e uma sabedoria perfeita.
      Eu teria podido mandar-vos para um outro lugar, a fim de vos preparardes para receber o Espírito Santo. Mas, em vez disso, Eu quero que aqui permaneçais, porque Jerusalém é a negadora que haverá de assombrar-se, ao ver a continuação dos prodígios divinos, que acontecerão em resposta às suas negações. Depois, o Espírito Santo vos fará compreender a necessidade de que a Igreja surja justamente nesta cidade que, julgando-se humanamente, é a mais indigna de tê-la. Mas Jerusalém é sempre Jerusalém, mesmo quando o pecado a cobre, até o ponto de aqui ter-se cumprido o deicídio. Nada haverá a favor de lá. Ela está condenada. Mas, se condenada ela está, nem todos os condenados são cidadãos dela. Ficai aqui em lugar dos poucos justos que ela tem em seu seio, e ficai aqui porque esta é a cidade dos reis, e a cidade do Templo e porque, como está predito pelos profetas, onde foi ungido e aclamado o rei Messias, é aqui que deve ter começo o seu reino sobre o mundo e aqui também é onde Deus recebe o libelo de repúdio, a sinagoga, pelos seus delitos horrendos demais, e onde deve surgir o Templo novo, para o qual acorrerão os povos de todas as nações.
      Lede os profetas. Nem está tudo predito. Minha Mãe, em primeiro lugar, e depois o Espírito Paráclito vos farão compreender as palavras dos profetas para este tempo.
      Permanecei aqui até quando Jerusalém vos repudiar, como a Mim repudiou, e odiará a minha Igreja, como Me odiou, incubando os seus dirigentes para exterminá-la. Então, vós levareis para outro lugar a sede desta minha Igreja querida, pois ela não deve perecer. Eu vo-lo digo: nem o Inferno poderá contra ela. Mas, se Deus vos garante a sua proteção e não tenteis ao Céu, exigindo tudo do Céu. [...] É do coração do homem que o sangue se propaga por todos os membros. E do coração do mundo é que o Cristianismo se deve propagar por toda a terra.
      Por enquanto, a minha Igreja é semelhante a uma criatura já concebida, mas que ainda vai-se formando no útero. Jerusalém é o seu útero, e no interior dele, o coração, ainda pequenino, ao redor do qual se reúnem os poucos membros da Igreja nascente, e solta as suas pequenas ondas de sangue para estes membros. Mas, tendo chegado a hora que Deus marcou, a matriz madrasta expelirá para fora a criatura que se formou em seu seio e esta irá para uma terra nova, e lá crescerá, tornando-se um grande corpo, estendido por toda a Terra, e as batidas do forte coração da  Igreja, tendo-se livrado de toda ligação com o Templo, eterna e vitoriosa por sobre as ruínas do Templo, que morreu e foi destruído, vivendo no coração do mundo, e dizendo aos judeus e aos gentios que só Deus triunfa e quer o que quer, e que nem o ódio dos homens, nem as fileiras dos ídolos impedem  a sua vontade.
      [...] Em verdade, Eu vos digo que os cidadãos do meu Reino aumentarão rapidamente, como as sementes lançadas em terra boa. E o meu povo se propagará por toda a terra. [...]
      Está para vir o Espírito Santo, o Santificador, e vós estareis cheios dele. Procurai ser puros como todos aqueles que devem aproximar-se do Senhor. Também Eu era Senhor como Ele. Mas Eu havia vestido, sobre a minha Divindade, uma veste para estar no meio de vós, e não somente para ensinar-vos, e redimir-vos com os órgãos e o sangue dessa veste, mas também para levar o Santo dos Santos por entre os homens, sem a conveniência que todos os homens, mesmo os impuros, seus olhares sobre Aquele que até os Serafins tem medo de olhar. Mas o Espírito Santo virá sem o véu de carne, e pousará sobre vós, descerá sobre vós com os seus sete dons e vos aconselhará. O conselho de Deus, porém, é uma coisa tão sublime, que é necessário preparar-se para recebê-lo com uma vontade heróica de uma perfeição tal, que vos torne semelhantes ao vosso Pai e ao vosso Jesus, ao vosso Jesus nos seus relacionamentos com o Pai e com o Espírito Santo. Para isso, uma caridade perfeita, uma pureza perfeita são necessárias, para que se possa compreender o Amor e recebê-lo no trono do coração.
      Perdei-vos no redemoinho da contemplação. Esforçai-vos para esquecerdes que sois homens e esforçai-vos para tornar-vos uns serafins. Lançai-vos na fornalha, nas chamas da contemplação. A contemplação de Deus é semelhante a uma centelha que escapa do esbarro de entre a pederneira e o fuzil e de onde nasce o fogo, que consome as matérias opacas e sempre impuras, transformando-as em chama luminosa e pura.
      Não tereis o Reino de Deus em vós, se não tiverdes o Amor. Porque o Reino de Deus é o Amor, aparece com o Amor e pelo Amor se instala nos vossos corações, no meio dos fulgores que uma luz vivíssima, que penetra e fecunda e afasta as ignorâncias, e dá as sabedorias, devora o homem e cria o Deus, o Filho de Deus, o meu irmão, o rei do trono, que Deus preparou para aqueles que se entregam a Deus, para terem Deus, Deus somente. Portanto, sede puros e santos pela oração ardente que santifica o homem, porque o imerge no fogo de Deus, que é a caridade.
      Vós deveis ser santos. Não somente no sentido relativo, que esta palavra tinha até agora, mas no sentido absoluto, que Eu dei a ela, ao propor-vos a Santidade do Senhor, como exemplo e limite para vós, isto é, a Santidade perfeita. Entre nós é chamado santo o Templo santo, santo o lugar em que está o altar, Santo dos Santos o lugar velado, onde está a arca e o Propiciatório. Mas em verdade Eu vos digo, que aqueles que possuem a graça e vivem na santidade, por amor do Senhor,são mais santos do que o santo dos Santos, porque Deus não pousa somente sobre eles, como no propiciatório, que está no Templo para dar as suas ordens, mas ele mora neles, para dar-lhes os seus amores.
      Lembrai-vos das minhas palavras na última Ceia. Eu vos havia prometido o Espírito Santo. Ele está para vir, e batizar-vos não mais com água, como fez convosco o João, preparando-vos para a minha chegada, mas com o fogo a fim de preparar-vos para servirdes ao Senhor, assim como Ele quer de vós. Pois bem. Ele estará aqui, daqui a não muitos dias. E depois de sua vinda, as vossas capacidades aumentarão sem medida, e vós sereis capazes de compreender as palavras do vosso Rei, e fazer as obras que Ele vos disse que façais para estender o seu Reino sobre a terra."
      "Tu construirás de novo, então, depois da vinda do Espírito Santo, o Reino de Israel?", perguntam-lhe, interrompendo-o.
      "Não haverá mais Reino de Israel. Mas o meu Reino. E este estará construído, quando o Pai disse. Não vos compete saber os tempos e os momentos que o Pai reservou em seu poder, mas vós, enquanto isso, recebereis a virtude do Espírito Santo, que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judéia, na Samaria e até nos confins da Terra, fazendo vossas reuniões nos lugares onde houver homens reunidos em meu Nome, batizando as pessoas em Nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, assim como Eu vos disse, para que
eles tenham a Graça e vivam no Senhor, pregando o Evangelho a todas as criaturas, ensinando-lhes aquilo que eu vos ensinei, e fazendo o que Eu vos mandei fazer. E Eu estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo.
      E quero ainda mais isto: que o presidente da reunião de Jerusalém seja Tiago, o meu irmão. Pedro, como chefe de toda a Igreja, deverá muitas vezes empreender viagens apostólicas, porque todos os neófitos desejarão conhecer o Pontífice Chefe Supremo da Igreja. Mas grande será o ascendente que sobre os fiéis desta primeira Igreja terá o meu irmão. Os homens são sempre homens, e vêem as coisas como homens. Parecer-lhes-á que o Tiago seja uma continuação de Mim, só porque é meu irmão. Em verdade, Eu vos digo que ele é o maior e mais parecido com o Cristo por sua sabedoria do que pelo parentesco. Mas assim é. Os homens que não me procuravam enquanto Eu estava entre eles, agora irão procurar-me naquele que é meu parente. E tu, depois, Simão Pedro, irás receber outras honras..."
      "Honras que eu não mereço, Senhor. Eu bem que lhe disse isso, quando me apareceste, e eu ainda to digo na presença de todos! Tu és bom, divinamente bom, além de seres sábio, e escolheste, logo a mim, que te reneguei nesta cidade, e não apto para ser o chefe espiritual dela. Tu queres poupar-me de muitos justos escárnios...
      "Todos nós fomos iguais, menos dois, Simão. Eu também fugi. Não por isso, mas pelas razões que eu já disse. O Senhor me destinou a este posto, mas tu és o meu chefe, Simão do Jonas, e Senhor de todos os meus companheiros, e eu professo minha obediência a ti. Eu te darei o que eu puder, para ajudar-te no teu ministério, mas eu te faço um pedido: dá-me as tuas ordens, porque tu és o chefe, e eu sou o súbdito. Quando o Senhor me fez lembrar de um discurso que já ficou longe no passado, eu inclinei a cabeça, dizendo: "Seja feito o que quiseres. "Assim eu te direi, a partir do momento em que, tendo-nos deixado o Senhor, tu serás o representante dele na terra. E assim nós te amaremos, ajudando-nos no ministério sacerdotal" diz Tiago, inclinando-se lá do seu lugar, para render uma homenagem a Pedro.
      "Sim. Amai-vos uns aos outros, ajudando-vos reciprocamente, pois este é o mandamento novo, e o sinal de que vós sois verdadeiramente de Cristo.
      Não vos perturbeis por coisa alguma. Deus está convosco. Vós podeis fazer o que Eu quero de vós. Não vos imporei coisas que não poderíeis fazer, porque Eu não quero ver a vossa ruína, mas a vossa glória. Eis que Eu vou preparar o vosso lugar, aos lados do meu trono. Ficai unidos a Mim e ao Pai no amor. Perdoai ao mundo que vos odeia. Chamai de filhos e irmãos os irmãos que forem a vós, ou que já estão convosco por amor de Mim.
      Permanecei na tranqüilidade de saberdes que Eu estou sempre pronto a ajudar-vos a carregar a vossa cruz, Eu estarei convosco nas canseiras do novo ministério e na hora das perseguições, e não perecereis, não sucumbireis, ainda que assim pareça àqueles que olham com os olhos do mundo. Sereis oprimidos, afligidos, figareis cansados, sereis torturados, mas a minha alegria estará em vós, e eu vos ajudarei em tudo. Em verdade Eu vos digo que, quando tiverdes como Amigo o Amor, então compreendereis que todas as coisas sofridas ou vividas por amor de Mim se tornam leves, mesmo quando se trata da tortura pesada do mundo. Porque para aquele que reveste de amor todas as suas ações, sejam elas voluntárias ou impostas, fica mudado o peso da vida e do mundo em um selo que lhe é dado por Deus e por Mim. E Eu vos repito que o meu peso é sempre em proporção das vossas forças. O meu peso é leve porque Eu vos ajudo a levá-lo.
      Vós bem sabeis que o mundo não sabe amar, mas vós, de agora em diante, amai o mundo, com um amor sobrenatural, para ensiná-lo a amar. E, se vos disserem, vendo que sois perseguidos; "É assim que Deus vos ama? Fazendo-vos sofrer e causando-vos dor? Nesse caso não vale a pena ser de Deus", respondei-lhes: "A dor não vem de Deus. Mas Deus a permite, e nós sabemos qual a razão disso e nos gloriamos de ter a parte que teve Jesus, o nosso Salvador, o Filho de Deus" Então, respondei-lhes: "Nós nos gloriamos de estar com Ele pregados na Cruz e de podermos continuar a Paixão de nosso Jesus." A morte e a dor entraram no mundo pela inveja do demônio, mas Deus não é o autor da morte e da dor, e não goza com a dor dos viventes. Todas as coisas dele são vida e todas são de salvação." Respondei-me: "No presente nos parecemos perseguidos e vencidos, mas no dia de Deus vão ser mudadas as sortes, e nós justos, perseguidos nesta Terra, estaremos gloriosos diante daqueles que nos maltrataram e desprezaram." Mas, dizei-lhes também: "Vinde a nós! Vinde à Vida e à paz. Nosso Senhor não quer a vossa ruína, mas a vossa salvação. Por isso Ele entregou o seu Filho dileto, para que vós todos fósseis salvos."
     E alegrai-vos por poderdes participar dos meus sofrimentos, para poderdes depois estar comigo na glória.  "Eu serei a vossa recompensa extremamente grande", é o que, na pessoa de Abraão, Deus promete a todos os seus servos fiéis. Vós sabeis como é que se conquista o Reino dos Céus: com a força. E lá se chega, passando por muitas tribulações. Mas aquele que persevera, como Eu perseverei, irá ficar onde Eu estou. Eu já vos disse qual é o caminho, e qual a porta que vai para o Reino dos Céus, e Eu, em primeiro lugar, caminhei por esse caminho, e vou voltar ao Pai por ele. Se houvesse um outro caminho, Eu vo-lo teria ensinado, porque Eu tenho piedade  da vossa fraqueza de homens, mas, não há outro caminho... Indicando-vos Eu qual é o único caminho, e qual a única porta, também Eu vos digo e vos repito qual é o remédio que dá forças para percorrê-lo e entrar. É o amor. Sempre o amor. Tudo se toma possível, quando em nós há amor. E todo amor vos dará o Amor que vos ama, se vós o pedirdes em meu Nome. Um amor tão grande, que vos convertereis em atletas na santidade.
      Agora, demo-nos o beijo de despedida, ó meus diletíssimos."
      Ele se levanta para abraçá-los. Todos o imitam. Mas, enquanto Jesus está com um sorriso pacífico, de uma beleza verdadeiramente divina, eles choram, todos perturbados, e João, abandonando-se sobre o peito de Jesus, sacudindo-se todo pelos soluços, que parecem romper-lhe o peito, de tão fortes que são, pede, também para todos, percebendo o desejo de todos: "Fazei isto em memória de Mim", e acrescenta: "Dá-nos pelo menos o teu Pão, que nos dê forças nesta hora."
      "Assim seja!", responde-lhe Jesus. E, tendo Ele apanhado um pão, o parte, depois de tê-lo oferecido e abençoado, repetindo as palavras rituais. E a mesma coisa Ele faz com o vinho, recomendando-lhes depois: "Fazei isto em memória de Mim", acrescentando: "Pois Eu vos deixei este penhor do meu amor para estar, ainda e sempre, convosco, até que estejais comigo no Céu". Ele os abençoa, e diz: "E agora, vamos."
      Eles saem do quarto da casa...
       Jonas, Maria e Marcos estão lá fora, e se ajoelham, adorando a Jesus.
      "A paz esteja convosco. E que o Senhor vos recompense por tudo que me destes", diz Jesus, abençoando-os, ao passar.
      Marcos se levanta, e diz: "Senhor, os olivais, ao longo do caminho e Betânia, estão cheios de discípulos, que te estão esperando."
      "Vai dizer a eles que se dirijam para o Campo dos Galileus."
      [...]    
      Eu digo que são umas centenas de pessoas as que estão ao redor de Jesus, que vai subindo, junto com os seus mais diletos, indo para o cume do Monte das Oliveiras. Mas Jesus, tendo chegado perto do campo dos Galileus, que está sem tendas, neste período entre uma e outra festa, ordena aos seus discípulos: "Fazei que o povo pare onde está, e vós, segui-me!"
      Ele sobe ainda, até o ponto mais alto do monte, o que está já mais perto de Betânia, que Ele já está vendo lá do alto, mas não de Jerusalém. Perto de Jesus estão: sua mãe, os apóstolos, Lázaro, os pastores e Marziam. Mais adiante, em semicírculo, entretendo a multidão dos fiéis, estão outros discípulos.
      Jesus está em pé, sobre uma grande pedra um tanto saliente e esbranquiçada, no meio da erva verde de uma clareira. O sol a cobre de luz, fazendo que fique branca como a neve sua veste, e reluzindo como ouro os seus cabelos. Seus olhos cintilam, com uma luz divina.
      Ele abre os braços, em gesto de abraço. Parece querer apertar contra o seu peito todas as multidões da terra, que o seu espírito vê representadas por aquela turba.
      Sua inesquecível e inimitável voz dá a última ordem: "Ide! Ide em meu Nome evangelizar os povos, até os extremos confins da terra. Deus esteja convosco. O seu amor vos conforte, a sua luz vos guie, e sua paz esteja em vós, até a vida eterna."
      Ele se transfigura em beleza. Está mais belo do que esteve sobre o Monte Tabor. Caem todos de joelhos, adorando. E Ele, enquanto  já começa a se elevar da pedra onde estava, procura mais uma vez o rosto de sua Mãe, e o seu sorriso chega até um ponto, ao qual ninguém poderá chegar. É o seu último adeus à sua Mãe. E Ele sobe... vai subindo.... O Sol que ainda está livre para poder beijá-lo, agora que nenhuma ramagem, mesmo rala, pode interceptar os seus raios, atinge com os seus fulgores ao Deus-Homem, que sobe com o seu Corpo Santíssimo para o Céu, e as suas chagas gloriosas resplendem como uns rubis vivos. E tudo mais torna o ar cheio de um sorriso como uma luz com um brilhar de pérolas... É verdadeiramente a luz que se manifesta por aquilo que é, neste último instante, como aquela da noite de Natal. Toda a natureza cintila, diante da luz do Cristo, ao encontro da luz que sobe... E Jesus Cristo, o Verbo de Deus, desaparece da vista dos homens, no meio deste oceano de resplendores.
      Na terra só dois rumores se ouvem, dentro do silêncio profundo da multidão extática: o grito de Maria, quando Ele desaparece; "Jesus!", e o pranto de Isaque. Os outros estão emudecidos, com um religioso espanto, e lá ficam, como quem espera, até que duas luzes angélicas e candidíssimas, em nossa forma mortal, aparecem dizendo aquelas palavras que estão escritas no capítulo primeiro dos Atos dos Apóstolos.

[Valtorta, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 10. p. 407-421] (grifos nossos)

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