sábado, 24 de setembro de 2011

Jesus e a “Liturgia das Horas”. O porquê da oração à hora nona. Trecho da obra de Maria Valtorta.

Jesus e a “Liturgia das Horas”. O porquê da oração à hora nona. Trecho da obra de Maria Valtorta

[...] é necessário santificar os momentos do dia inteiro, para conservar-nos em santidade e termos sempre presente em nosso coração o Altíssimo e as suas bondades e, durante esse tempo, deter longe o demônio.
[...] entre a hora sexta e a nona, Aquele que veio como Salvador e Redentor, Aquele do qual falam os profetas, consumará o seu sacrifício, depois de ter comido o pão amargo da traição, e dado o doce Pão da Vida [...]. Levantado com a purpurina veste de suas chagas inumeráveis, no meio das trevas, para fazer brilhar sua Luz, na morte para dar Vida, morrerá na hora nona e o mundo será redimido.
 
            A Liturgia das Horas (Ofício Divino) é uma tradição da Igreja Católica que, desde seus primórdios, aconselha o povo cristão à prática da oração diária dentre uma de suas principais devoções. A Liturgia das Horas tem raízes calcadas no judaísmo.
            Neste artigo trazemos uma belíssima transcrição da obra de Maria Valtorta onde Jesus destaca especialmente a oração à hora nona (três horas da tarde) – a hora do sacrifício do Redentor – em conformidade com a revelação da Divina Misericórdia feita a Santa Faustina (assunto ao qual nos dedicaremos em breve).
             Para mim, a lição que Jesus apresenta se revela como um verdadeiro prenúncio da mensagem da Divina Misericórdia.
             O trecho abaixo transcrito é um diálogo entre Jesus e Marziam (um menino órfão que estava sob os cuidados de Jesus, de Maria, e dos apóstolos, notadamente Pedro):
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             Jesus está sozinho, atrás, como às vezes faz, quando quer ficar isolado. Marziam se vira muitas vezes a fim de olhar para Ele. [...]
           E continua a observar, até que Jesus, tendo saído da sua meditação, se vira [...] e sorri, estendendo a mão para o menino, e dizendo: “Oh! Marziam! Que estás fazendo sozinho?”
          “Eu estava olhando para Ti. [...] Eu tenho visto que Tu, de vez em quando, te pões sozinho [...] Tu o fazes sempre, nas primeiras horas, e que a Mamãe [é assim que ele chama Nossa Senhora], que sempre te consola quando estás triste, não te diz nada quando ficas com aquele rosto. Mas, ao contrário, se Ela estava falando se cala, e se recolhe toda, Ela também. [...] Mas não é sempre o mesmo o teu rosto. Nesta manhã, ao romper do dia, parecias um anjo de luz. Olhavas para as coisas com certos olhos, que eu creio as tiravam das trevas mais do que o sol, tanto as coisas como as pessoas. [...] Mas agora o teu rosto tem sido de dor... que estás pensando, Jesus, nessas horas, sempre que ficas assim?... E também, às vezes, pela tarde, se não estou dormindo, eu te vejo muito sério. Tu me dizes como rezas, e por que rezas?”
          “Certamente, eu te direi. E assim tu rezarás comigo. O dia quem no-lo dá é Deus. O dia todo: tanto em sua parte luminosa, como na escura, tanto o dia, como a noite. É um dom de Deus podermos viver e ver a luz. É um meio de santificação a vida que vivemos. Não é verdade? Então é necessário santificar os momentos do dia inteiro, para conservar-nos em santidade e termos sempre presente em nosso coração o Altíssimo e as suas bondades e, durante esse tempo, deter longe o demônio. Observa os passarinhos. Ao primeiro raio do sol, eles já cantam. Eles bendizem a luz. Também nós devemos bendizer a luz, que é um dom de Deus, e bendizer a Deus, que a concede, a Deus, que é a Luz. Ter desejo dele, desde a primeira luz da manhã, como para pôr um selo de luz, uma nota de luz, sobre todo o dia que vem chegando, a fim de que ele seja todo luminoso e santo. E unir-se a todas as criaturas para cantar hosanas ao Criador. Depois, como as horas vão passando, com o seu passar elas nos levam a verificar quanta dor e ignorância há neste mundo, e então é preciso rezar também para que as dores sejam aliviadas, para que a ignorância cesse, e Deus seja conhecido, amado, louvado por todos os homens que, se conhecessem a Deus, seriam sempre consolados também em seus sofrimentos. E na hora sexta [por volta do meio dia], rezar por amor à família. Saborear este dom de podermos estar unidos com quem nos ama. Isto também é um dom de Deus. E rezar para que o nosso alimento não se transforme de alimento em pecado. E, ao pôr-do-sol, rezar, pensando que a morte é o pôr-do-sol que nos espera a todos nós. Então, rezemos para que o nosso pôr-do-sol, tanto o de cada dia, como da vida inteira, seja sempre realizado com nossa alma em estado de graça. E quando se acenderem as luzes, rezai para dar graças por mais um dia que se foi, e para pedir proteção e perdão, a fim de podermos entregar-nos ao sono, sem medo de sermos julgados sem estarmos preparados, e dos assaltos dos demônios. Rezai, enfim, durante a noite, – mas isto é para aqueles que não são mais meninos – em reparação pelos pecados da noite, para afastar satanás dos fracos, a fim de que nos culpados nasçam a reflexão, a contrição e os bons propósitos, que deverão tornar-se realidades, ao nascer do sol. Aí está como há de rezar, e porque é que reza um justo, durante o dia inteiro.”
             “Mas não me disseste porque é que te apartas dos outros, ficas sério e com um ar grave, à hora nona [três horas da tarde]...”
             “Porque... Eu digo: ‘Pelo sacrifício desta hora, venha o teu Reino ao mundo, e sejam redimidos todos aqueles que crêem no teu Verbo’. Dize assim também tu.”
             “Que sacrifício é? O incenso, como disseste, se oferece pela manhã e à tarde. [...] A hora de nona não está indicada para nenhum rito especial.”
           Jesus pára, segura o menino pelas duas mãos, e o levanta, conservando-o firme diante de Si, e, como se estivesse recitando um salmo, com o rosto levantado, diz: “E entre a hora sexta e a nona, Aquele que veio como Salvador e Redentor, Aquele do qual falam os profetas, consumará o seu sacrifício, depois de ter comido o pão amargo da traição, e dado o doce Pão da Vida, depois de ter-se exprimido a Si mesmo como um cacho o é na tina, e depois de ter usado a Si mesmo para matar a sede dos homens e das ervas, de ter feito para Si púrpura de Rei com o seu sangue, depois de ter recebido uma coroa, de ter em suas mãos o cetro, e de ter transportado o seu trono para um lugar alto a fim de que pudesse ser visto por Sião, por Israel e pelo mundo. Levantado com a purpurina veste de suas chagas inumeráveis, no meio das trevas, para fazer brilhar sua Luz, na morte para dar Vida, morrerá na hora nona e o mundo será redimido.
             Marziam, espantado e muito pálido, olha para Ele, dando sinal com seus lábios e com seus olhos assustados, de uma grande vontade de chorar. E, com uma voz sem firmeza, diz: “Mas o Salvador és Tu. E, então, serás Tu que irás morrer naquela hora?” As lágrimas começam a correr-lhe ao longo das faces e a pequena boca as vai bebendo, enquanto, entreaberta, espera ainda desmentido.
             Mas Jesus diz: “Serei Eu, ó pequeno discípulo. E por ti também.” E, como o menino prorrompe em convulsivos soluços, Ele o aconchega sobre seu coração, e diz:
             “Ficas triste se Eu morrer?”
             “Oh! Minha única alegria! Eu não quero isto! Eu... Faze-me morrer no teu lugar...”
             “Tu terás que pregar-me por todo o mundo. Está dito. Mas escuta. Eu morrerei contente, porque sei que tu me amas. E depois ressuscitarei. Tu te lembras de Jonas? Ele saiu mais bonito do ventre da baleia, descansado, forte. Eu também e virei logo a ti, e te direi: ‘Pequeno Marziam, o teu pranto me tirou a sede. O teu amor me fez companhia no sepulcro. Agora, Eu venho dizer-te: ‘Sê meu sacerdote’, e Eu te beijarei, tendo, então, em Mim o odor do Paraíso.” 

(Valtorta, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 4. p. 449-452) (grifei e destaquei)

            O rico e emocionante diálogo acima revela, ainda, a presença do Espírito Santo na Igreja Católica, retratada nas suas práticas e sacramentos, que estão em perfeita sintonia com os ensinamentos de Cristo e dos primeiros apóstolos.
            Com efeito, vemos nos Atos dos Apóstolos que os batizados eram “perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna, na fração do pão e nas orações” (At. 2,42). Por sua vez, São Paulo, na sua Carta aos Efésios (6, 10-20), já exortava os cristãos a tomarem a “armadura de Deus”, da qual a oração figura como integrante indispensável.
             Doravante, publicaremos outros trechos da obra de Maria Valtorta acerca da importância da oração.
            Maiores detalhes sobre a Liturgia das Horas podem ser obtidos no seguinte link: http://liturgiadashoras.org/artigos.html.
             Que Deus abençoe a todos!

             Francisco José

Um comentário:

  1. O Evangelho como me foi Revelado é de uma riqueza de detalhas que acaba por ser uma obra prima Revelada e ditada por Jesus à Maria Valtorta. Tenho os 10 volumes desse Evangelho.
    Não deveria faltar em nenhuma casa.

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