quarta-feira, 13 de abril de 2011

O Sexto Mandamento – Não cometerás adultério (Ex 20,14). O Nono Mandamento – Não desejarás a mulher do teu próximo (Ex 20,17)

O Sexto Mandamento – Não cometerás adultério (Ex 20,14). O Nono Mandamento – Não desejarás a mulher do teu próximo (Ex 20,17)

Ouvistes o que foi dito: "Não cometerás adultério". Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração (Mt 5,27-28).

Continuando a temática sobre os Mandamentos da Lei de Deus, nos reportamos, hoje, ao Sexto e ao Nono Mandamentos, dado o forte liame entre esses dois preceitos divinos.
Reiteramos que no tópico concernente ao Primeiro Mandamento consta uma visão geral sobre os Mandamentos diante do Evangelho.
Na obra de Maria Valtorta impressionam as fortes palavras de Cristo quando aborda os pecados contra a pureza: “repugnância”, “horror” e “nojo” são algumas das expressões por Ele utilizadas. De fato, são raros os momentos em que Jesus se manifesta de forma tão severa na obra em evidência.
Sobre o tema, Jesus inicia seus ensinamentos ressaltanto a precípua função da união sexual no matrimônio com vistas à maternidade. Nesse sentido, ressalta ser luxúria, também, a união sexual de marido e mulher quando buscam tão-somente a “satisfação da sensualidade”, em detrimento da maternidade:

        Matrimônio quer dizer procriação, e o ato quer dizer e deve ser fecundação. Sem isto, é imoralidade. Não se deve fazer do tálamo um lupanar. E é isto que ele se torna, se se suja com a libidinagem, e não se consagra pela maternidade. A terra não rejeita a semente. [...] O homem é a semente, a mulher é a terra e a espiga é o filho. Recusar-se a produzir a espiga e dispersar a força no vício é um pecado. [...].
        Por isso, estais vendo, ó mulheres intencionalmente estéreis, mulheres legais e honestas, não aos olhos de Deus, mas do mundo, [...] porque ides demais, e com freqüência, não à procura da maternidade, mas do prazer. [...]
(Valtorta, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 2. p. 284)      

Continuando suas lições, Jesus caracteriza como pecado “uma grande parte das ações carnais do homem”, ressaltando que tais ações não se limitam às práticas condenadas no Levítico (atos homossexuais e bestialidades – vide Lev 18, 22-23). Entretanto, mesmo não medindo palavras para deixar clara a gravidade dos pecados contra a carne – e isso, penso eu, devido à impureza servir como a principal porta para a perda da alma (vide tópico sobre a tentação no deserto, já postado neste blog) – Jesus se apresenta para os pecadores como o Bom Pastor, chamando à conversão até aos mais aviltados pelo erro, “porque a bondade de Deus não tem comparação com a bondade humana e a sua misericórdia é infinitamente maior do que a miséria humana”. Vejamos as palavras de Jesus:

        "Não forniqueis", foi dito.
        É fornicação uma grande parte das ações carnais do homem. E não me estou referindo nem mesmo àquelas inconcebíveis uniões de íncubo, que o Levítico condena com estas palavras: "Homem não te aproximarás do homem, como se ele fosse uma mulher", e: "Não te aproximarás de nenhum animal, para não te contaminar com ele. E assim fará a mulher e não se unirá a animal, porque é perversidade". Mas depois de ter acenado aos deveres dos esposos para com o casamento, que cessa de ser santo quando, por malícia, se torna infecundo, venho falar da verdadeira e própria fornicação entre o homem e a mulher, por vício recíproco e por compensação em dinheiro ou em presentes.
        O corpo humano é um magnífico templo, que encerra um altar. Sobre esse altar deveria estar Deus. Mas Deus não está onde há corrupção. Por isso, o corpo do impuro tem o altar dessagrado e sem Deus. [...]
        E dizei-me, se entre vós há alguém que se depravou até o ponto de comerciar o seu corpo, como se faz na feira com os cereais e os animais, que bem daí lhe resultou? Tomai de fato o vosso coração nas mãos, observai-o, interrogai-o, ouvi o que ele vos diz, olhai as suas feridas, os seus arrepios de dor, e depois dizei e respondei-me: era tão doce aquele fruto, para merecer esta dor de um coração, que tinha nascido puro e que vós obrigastes a viver em um corpo impuro, a bater para dar vida e calor à luxúria, a se esbanjar no vício?
         [...]
        Mas não sentis a vossa miséria, quando tendes sede de um beijo de criança, e não tendes mais coragem de dizer: "Dá-me um beijo", por causa das vidas que matastes no começo, repelidas por vós como um peso aborrecido e como um estorvo inútil, arrancadas da árvore que, contudo, as havia concebido, e jogadas no lixo, e agora aquelas pequenas vidas vos estão gritando: "assassinas!"?
        Mas não tremeis, sobretudo diante daquele Juiz, que vos criou e vos está esperando, para perguntar-vos: "Que é que fizeste de ti mesma? Porventura, para isto é que te dei a vida? [...]
         [...]
        Oh! Pai! Pai! Também por esta alma Eu assumi uma carne e deixei o Céu para ser o Redentor dela e de muitas outras almas suas irmãs! Por que não devo acolher esta ovelha errante e levá-la para o ovil, limpá-la, uni-la ao rebanho, dar-lhe pastagens e um amor que seja perfeito, como só o meu pode ser, tão diferente daqueles que tiveram para ela até hoje o nome de amor e que não eram mais do que ódios, tão piedoso, completo, suave, para que ela não sinta mais saudade do tempo passado, ou tenha saudade dele, só para dizer: "Foram muitos os dias que eu perdi longe de Ti, ó eterna Beleza. Quem me devolve o tempo perdido? Como poderei saborear, no pouco tempo que me resta, tudo o que eu teria podido saborear, se tivesse sido sempre pura?".
        Contudo, não chores, ó alma espezinhada por toda a libidinagem do mundo. Escuta: és um trapo sujo. Mas podes transformar-te em uma flor. [...] Um dia tu foste assim. Dançavas sobre prados floridos, rosa entre as rosas, fresca como elas, perfumada de virgindade. Cantavas serena as tuas canções de menina, depois corrias até tua mãe, até o teu pai, e lhes dizias: "Vós sois os meus amores". E o invisível anjo da guarda, que cada criatura tem a seu lado, sorria da tua alma branca-azul... E depois? Por que? Por que arrancaste as tuas asas de pequena inocente? [...]
        Arrepende-te, filha de Deus. O arrependimento renova. O arrependimento purifica. O arrependimento exalta. O homem não te pode perdoar? Nem teu pai o poderia? Mas Deus pode. Porque a bondade de Deus não tem comparação com a bondade humana e a sua misericórdia é infinitamente maior do que a miséria humana. Honra a ti mesma, tornando, com uma vida honesta, digna, a tua alma. Justifica-te junto a Deus, não pecando mais contra a tua alma. Procura ter um nome novo junto a Deus. Isto é o que vale. Tu és o vício. Transforma-te na honestidade. Torna-te um sacrifício. Transforma-te na mártir do teu arrependimento. Tu soubeste martirizar bem o teu coração para fazer gozar a carne. Agora saibas martirizar a carne para dares uma eterna paz ao teu coração.
(idem, p. 285-287) (grifei)
           
Especialmente em relação ao Nono Mandamento, Jesus ressalta o seguinte:
        
        "Não desejar a mulher do próximo" está unido à "não cometer  adultério". Porque o desejo precede sempre a ação.  O homem é fraco demais para poder desejar, sem que depois chegue a consumar o seu desejo. E, o que é sumamente triste, é que o homem não sabe fazer a mesma coisa nos desejos justos. Nas coisas más, se deseja e depois se realiza. Nas coisas boas, se deseja e depois se detém, se é que não se retrocede.
        Como disse a ele, digo a todos vós, porque o pecado de desejo está tão espalhado como a grama, que por si mesma se propaga: sois vós umas crianças, para não saberdes que aquela tentação é venenosa e deve ser evitada? "Fui tentado". Aí está uma antiga palavra! Mas, assim como é também um antigo exemplo, deveria o homem lembrar-se das conseqüências disso e saber dizer: "Não". Em nossa história não faltam exemplos de castos que assim se conservaram, não obstante todas as seduções do sexo e as ameaças dos violentos.
        É a tentação um mal? Não o é. É obra do Maligno. Mas se transforma em glória para aquele que a vence.
        O marido que vai para os outros amores é um assassino da esposa, dos filhos e de si mesmo. Aquele que entra na morada alheia para cometer adultério é um ladrão, e dos mais vis. É semelhante ao cuco que, sem despesa, goza do ninho alheio. Aquele que solapa a boa fé do amigo é um falsário, porque testemunha uma amizade que na realidade não tem. Aquele que age assim, desonra a si mesmo e aos seus pais. Pode então ter Deus consigo?
         [...] Mas a luxúria me dá tanta repugnância que, contra ela fico revoltado. Vós gritastes por medo e por horror da lepra. Eu, com minha alma, gritei por horror da luxúria. Todas as misérias estão ao redor de Mim e para todas Eu sou o Salvador. Mas prefiro tocar em um morto, um justo já em decomposição em sua carne, que foi honesta e já está em paz com o seu espírito, a aproximar-se daquele que tem cheiro de luxúria. Sou o Salvador, mas sou o Inocente. Lembrem-se disso todos aqueles que vêm, ou que falam de Mim, imputando à minha personalidade os fermentos da deles.
        Compreendo que vós queríeis outra coisa de Mim. Mas Eu não posso. A ruína de uma juventude, que mal se formou e já está destruída pela libidinagem, turbou-me mais do que se tivesse tocado na Morte. Vamos aos doentes. Não podendo, por causa do nojo que me está sufocando, ser a Palavra, serei a Saúde dos que esperam em Mim.
        A paz esteja convosco.
(idem, p. 317-318) (grifei)

Sobre o Sexto e o Nono Mandamentos tratam os parágrafos 2331 a 2400 e 2514 a 2533 do Catecismo. Dentre outras questões, neles estão consignados os pensamentos da Igreja Católica sobre a luxúria e os pecados contra a castidade, como a masturbação, a prostituição, o sexo “livre”, a pornografia, o adultério. Ao abordar a fidelidade e o amor entre os esposos, o Catecismo traz sábias lições para os casais e a vida familiar:
Outros temas tratados pelo Catecismo inerentes aos Mandamentos em comento são os seguintes: divórcio, controle de natalidade, métodos artificiais de concepção, luta pela pureza.
Questão bastante em voga, também objeto de exame pelo Catecismo, diz respeito à homossexualidade, onde podemos ver nítida distinção entre a inclinação homossexual e a prática homossexual – apenas esta é que a Igreja considera como pecado. Para os que tem inclinação para o homossexualismo a Igreja recomenda a castidade, e que os mesmos sejam acolhidos com “respeito, compaixão e delicadeza”, sentimentos, aliás, que devemos cultivar para com todos.
Aliás, o chamamento à castidade e à pureza é para todos. Extrai-se dos trechos acima reproduzidos, da Liturgia da Igreja, e da Tradição, que a vida matrimonial, inclusive, deve ser pautada na castidade:

       "Os atos com os quais os cônjuges se unem íntima e castamente são honestos e dignos.  Quando  realizados  de  maneira  verdadeiramente  humana,  significam  e  favorecem  a mútua doação pela qual os esposos se enriquecem com o coração alegre e agradecido." A sexualidade é fonte de alegria e de prazer.
       O próprio Criador... estabeleceu que nesta função (i.é, de geração) os esposos sentissem prazer  e  satisfação  do  corpo  e  do  espírito.  Portanto,  os  esposos  não  fazem  nada  de  mal  em procurar  este  prazer  e  em  gozá-lo.  Eles  aceitam  o  que  o  Criador  lhes  destinou.  Contudo,  os esposos devem saber manter-se nos limites de uma moderação justa.  (Catecismo, § 2362)

Finalmente, concluo com este belo trecho, também da obra de Maria Valtorta:

            Sede puros. Começai a sê-lo pelo corpo, para passardes ao espírito. Começai pelos cinco sentidos para passardes às sete paixões. Começai pelos olhos [...]. Quanto mais puros forem os vossos olhos, mais puro será o vosso coração. Sede vigilantes sobre os vossos olhos, ávidos descobridores dos pomos tentadores. Sede castos nos olhares, se quereis ser castos no corpo. Se tiverdes castidade na carne, tereis castidade na riqueza e no poder. Tereis todas as castidades, e sereis amigos de Deus. Não tenhais medo de ser escarnecidos por serdes castos. Tende medo somente de ser inimigos de Deus.
(Valtorta, ob. cit., v. 1. p. 110-111).

Fiquem com Deus!
Francisco José

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