quarta-feira, 20 de abril de 2011

O Oitavo Mandamento – Não apresentarás um falso testemuno contra teu próximo

O Oitavo Mandamento – Não apresentarás um falso testemuno contra teu próximo (Ex 20, 16)

Ouvistes também o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas  cumprirás os teus juramentos para com o Senhor (Mt 5,33).

Finalizando o tema sobre os Mandamentos da Lei de Deus trazemos, hoje, trechos dos ensinamentos de Jesus sobre o VIII Mandamento, reproduzidos da obra de Maria Valtorta.

Neste belíssimo ensinamento Jesus nos ensina que “toda mentira é um falso testemunho”, nos fala das causas da mentira: ódio, avidez ou medo, da amplitude da conduta mentirosa e das consequências para aqueles que se dão a tais práticas. Exalta com veemência a simplicidade, a verdade e a sinceridade, “[...] régia mais do que o ouro e do que um diadema, e eleva o homem acima das multidões, mais do que um trono [...]”.

"Tende sempre a mesma linguagem. O sim seja sempre sim, e o não seja sempre não, mesmo diante dos poderosos e dos tiranos. E grande mérito tereis por isso no Céu".

Vejamos o que Jesus nos diz:

        "Não dirás falso testemunho", foi dito.
        Que existe de mais nauseante do que um mentiroso? Não se pode dizer que ele concentra crueldade com impureza? Sim, pode. O mentiroso, falo do mentiroso em coisas graves, é cruel. Ele mata uma estima com sua língua. Portanto, não é diferente do assassino. Aliás, digo: é mais do que um assassino. Este mata somente um corpo. O mentiroso mata também o bom nome, a lembrança de um homem. Por isso, é duas vezes assassino. É o assassino impune, porque não derrama sangue, mas fere a honra, tanto do caluniado, como de toda  a sua família. E não me estou referindo nem ao caso de alguém que, jurando falso, mande um outro à morte. Sobre este já estão acumulados os carvões da Geena. Mas estou falando só de alguém que, com palavras mentirosas, insinua e persuade a outros em desfavor de um inocente. Por que faz isso? Ou por um ódio sem razão, ou pela avidez de ter o que o outro possui. Ou então, por medo.
        Ódio. Tem ódio só quem é amigo de Satanás. O bom não odeia. Nunca. Por nenhuma razão. Mesmo desprezado, mesmo prejudicado, ele  perdoa. Não odeia nunca. O ódio é o testemunho que uma alma perdida dá de si mesma, e o testemunho mais belo que é dado ao inocente. Porque o ódio é a revolta do mal contra o bem. Não se perdoa a quem é bom.
        Avidez. "Ele tem o que eu não tenho. Eu quero o que ele tem. Mas somente com espalhar uma desestima contra ele, eu posso chegar ao lugar dele. E eu vou fazer isso. Minto? Que importa? Roubo? Que importa? Posso chegar a arruinar uma família inteira? Que importa?". Entre tantas perguntas que o astuto mentiroso faz a si mesmo, ele se esquece, quer esquecer-se, de uma pergunta. É esta: "E se eu fosse desmascarado?". Esta ele não faz a si mesmo, porque, dominado  pelo orgulho e pela avidez, está como se tivesse os olhos vendados. Não vê o perigo. E ainda como um ébrio. Está embriagado pelo vinho satânico e não pensa que Deus é mais forte do que Satanás e se encarrega de fazer a vingança pelo caluniado. O mentiroso entregou-se à Mentira e, estultamente, confia na sua proteção.
        Medo. Muitas vezes alguém calunia para tirar a culpa de si mesmo. É a forma mais comum de mentira. O mal já foi feito. Teme-se que ele seja descoberto e reconhecido como obra nossa. Então, usando e abusando da estima que ainda se tem junto aos outros, eis que se inverte o fato, e daquilo que nós fizemos, atribuímos a culpa a um outro, do qual teme-se só a honestidade. Também se faz isso, porque o outro, às vezes, pode ter sido, sem querer, testemunha de alguma má ação nossa, e, então, queremos colocar-nos a seguro contra algum testemunho dele. Acusam-no, para que se torne malvisto onde, se ele falar, ninguém creia nele.
        Mas, procedei bem! Procedei bem! E desta mentira nunca tereis necessidade. Não pensais, quando estais mentindo, que vos estais impondo a vós mesmos um pesado jugo? Ele consiste em vossa sujeição ao demônio, no medo contínuo de um desmentido e na necessidade de ficar sempre se lembrando da mentira dita, com os fatos e os particulares com que foi dita, mesmo depois de anos, sem cair em contradição. É um trabalho de galeote. E se isso ainda servisse para o Céu!  Mas só serve para preparar-vos um lugar no inferno!
        Sede sinceros. É tão bela a boca do homem que não conhece mentira! Será pobre, será rústico, será desconhecido? Antes, o é? Sim. Mas sempre é um rei. Porque é um sincero. E a sinceridade é régia mais do que o ouro e do que um diadema, e eleva o homem acima das multidões, mais do que um trono, e forma uma corte de bons, mais do quanto pode ter um monarca. Segurança e tranqüilidade é o que dá a vizinhança com um homem sincero. Ao passo que é um incômodo a amizade com um homem não sincero. Só a vizinhança dele já é um incômodo. Quem mente, não pensa que – porque bem depressa a mentira se descobre de mil modos – depois ele é sempre considerado suspeito? Como se poderá aceitar mais o que ele diz? Até quando diz a verdade – e os que ouvem querem crer – no fundo ficam sempre com uma dúvida: "Não estará mentindo agora também?".
        Vós direis: "Mas onde está o testemunho falso?". Toda mentira é  um falso testemunho. Não somente a mentira legal.
        Sede simples como simples é Deus e o menino. Sede verídicos em todos os momentos de vossa vida. Quereis ter boa reputação? Sede bons de verdade. Ainda que um maledicente quisesse falar mal de vós, cem bons diriam: "Não. Não é verdade. Ele é bom. Suas obras falam por ele".
        Em um livro sapiencial está escrito: "O homem apóstata procede com perversidade em seus lábios... em seu coração perverso prepara o mal e em todo tempo vive semeando discórdias... Seis coisas o Senhor abomina e a sétima é por Ele execrada: os olhos soberbos, a língua mentirosa, as mãos que derramam sangue inocente, o coração que medita desígnios iníquos, os pés que correm apressados para o mal, a falsa testemunha que profere mentiras, e aquele que semeia discórdias entre os irmãos... Pelos pecados da língua, a ruína se aproxima do homem mau... Quem mente é uma testemunha fraudulenta. Os lábios verídicos não mudam nunca, mas é testemunho de um momento quem trama linguagem de fraude. As palavras do murmurador parecem simples, mas elas penetram até às entranhas. O inimigo se reconhece em seu falar, quando prepara a traição. Quando fala com voz baixa, não confies nele, porque no coração ele traz sete malícias. Ele com dissimulação esconde o seu ódio, mas a sua malícia será revelada... Quem cava um buraco, cairá nele e a pedra cairá em cima de quem a vai rolando".
        Velho como o mundo é o pecado da mentira e sem mudança é o pensamento do sábio a seu respeito, como sem mudança é o juízo de Deus sobre quem é mentiroso.
        Eu digo: "Tende sempre a mesma linguagem. O sim seja sempre sim, e o não seja sempre não, mesmo diante dos poderosos e dos tiranos. E grande mérito tereis por isso no Céu".
        Eu vos digo: "Tende a espontaneidade da criança que, por instinto, vai atrás de quem é bom, sem procurar outra coisa, que não seja a bondade. Ela diz o que a sua própria bondade a faz pensar, sem calcular se está falando demais, podendo ser por isso repreendida".
        Ide em paz. Que a Verdade se torne vossa amiga.

(Valtorta, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 2. p. 330-332)      

O VIII Mandamento é objeto dos parágrafos 2464 a 2513 do Catecismo da Igreja Católica, onde, dentre outros preceitos, chamamos atenção para a necessidade do testemunho cristão, que não deve "se envergonhar de dar testemunho de Nosso Senhor" (2Tm 1,8), da exigência de reparação diante da mentira, da inviolabilidade do sigilo sacramental, e do direito da sociedade a meios de comunicação fundados na verdade, na liberdade e na justiça.

Aliás, a VERDADE como tema de fundo me traz à memória outro belo ensinamento contido no décimo volume da obra de Maria Valtorta, sobre o papel daqueles responsáveis pela atividade de julgar:

A ninguém é lícito erigir-se em juiz do irmão e, muito menos, em seu carrasco. Somente um é o Juiz: Deus. E, se a justiça do homem criou os seus tribunais, a estes é que toca a tarefa de administrar a justiça. E ai daqueles que profanarem tal nome e quiserem julgar pelo critério de suas paixões ou pelas pressões dos poderes humanos.” (Valtorta, Maria. ob. cit., v. 10, p. 89).

Que todos tenham uma santa Páscoa, e que Deus os abençoe!

Francisco José

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