O Nascimento do Menino Jesus
A luz, que se desprende sempre mais do corpo de Maria, absorve a luz da lua, e parece que Ela atraia a si toda a luz do Céu. Agora Ela é a depositária da Luz. É Ela que deve dar esta Luz ao mundo.
Conforme afirmado em momentos anteriores, muita coisa da vida de Jesus não foi transcrita pelos Evangelistas[1], os quais, todavia, retrataram o essencial da Revelação para a nossa salvação. Graças a Deus, a Tradição Apostólica, que se perpetua na Igreja até os dias de hoje (sob assistência do Espírito Santo – Magistério da Igreja), nos auxilia na busca à plenitude da Verdade Divina e ao regozijo na Vida Eterna.
Não bastasse isso, a história da Igreja é rica de inúmeras manifestações sobrenaturais (aparições de Jesus, de Maria Santíssima, de anjos, locuções interiores), as quais, dado seu conteúdo, demonstram que Deus, no seu infinito amor por cada um de nós, age incansavelmente por nossa salvação.
Aí se enquadra a obra de Maria Valtorta[2], da qual já nos referidos reiteradamente neste espaço. E é dela que tiramos alguns excertos concernentes ao nascimento de Cristo, aproveitando, ainda, este maravilhoso Tempo do Natal.
E o trecho que ora reproduzimos é belíssimo: trata do nascimento do Menino Jesus.
Antes, porém, transcrevo uma passagem extraída das revelações feitas por Nossa Senhora ao Pe. Stefano Gobbi concernente ao Nascimento de Jesus. Depois, reproduzo o mesmo fato descrito por Maria Valtorta. Reparem na sintonia entre os relatos:
[Revelação de Nossa Senhora ao Pe. Gobbi]
O meu corpo era envolvido por uma luz que se tornava cada vez mais forte, mais viva, à medida que Eu entrava num êxtase de oração e de profunda união com o Pai Celeste.
Naquela noite o Paraíso estava todo encerrado numa pobre gruta gelada.
Tal como um raio de luz atravessa um cristal sem sequer o tocar, assim o meu divino Menino passou através do véu do meu seio virginal, sem tocar sequer o encanto da minha perfeita virgindade. Foi desse modo admirável que aconteceu o nascimento do meu Filho. O maior prodígio cumpriu-se na plenitude do tempo.
[Mensagem de Nossa Senhora ao Pe. Stefano Gobbi, em 24/12/1988. Reproduzida em: Aos Sacerdotes, filhos prediletos de Nossa Senhora. Loyola. 2008. 24. ed. p. 704-705] (grifei)
[O mesmo fato conforme descrito na obra de Maria Valtorta]
6 de junho de 1944
Vejo ainda o interior deste pobre refúgio rochoso, onde José e Maria encontraram o abrigo que compartilham com animais.
Um pequeno fogo está cochilando junto ao seu guardião. [...] Maria [...] se põe de joelhos. Reza com um sorriso feliz em seu rosto. [...] É uma longa oração.
José desperta. Vê que o fogo está quase apagado e a gruta está ficando escura. Joga um punhado de gravetos bem finos, e a chama se ergue de novo; procura depois uns galhos mais grossos, porque o frio deve ser de gelar. [...]
[...]
Um pouco de luar está entrando por uma fenda do teto, e parece a lâmina de alguma prata imaterial, que vai-se aproximando de Maria. A lâmina via-se alongando, à medida que a lua vai ficando mais alta no céu. Agora já está sobre a cabeça da orante, ornando-a com uma auréola de luz.
Maria levanta a cabeça como se tivesse sido chamada por uma luz no céu, e se põe de novo de joelhos. Oh! Como é belo aqui. Maria ergue de novo a cabeça, que parece estar brilhando, à luz branca da lua, e um sorriso não humano a transfigura. Que é que ela estará vendo? Que estará ouvindo? Que estará experimentando? [...] Eu vejo apenas a luz crescendo sempre mais, ao redor dela. Parece descer do Céu, saindo das pobres coisas que estão ao redor, e parece emanar dela mesma, ainda mais.
Sua veste, de um azul escuro, parece agora de um suave celeste de miosótis. Suas mãos e seu rosto parecem ficar de um azul muito delicado [...]
A luz, que se desprende sempre mais do corpo de Maria, absorve a luz da lua, e parece que Ela atraia a si toda a luz do Céu. Agora Ela é a depositária da Luz. É Ela que deve dar esta Luz ao mundo. E esta Luz beatífica, incontrolável, imensurável, eterna e divina, está para ser dada, e se anuncia como uma luz de aurora crescendo, um coro de átomos aumentando a maré subindo, a nuvem do incenso espalhando-se, para descer depois sobre uma enchente e estender-se como um véu...
O teto, cheio de fendas, teias de aranha, entulhos que em cima se estendem para a frente, estão em equilíbrio por um milagre da estática, esse teto que antes era tão enegrecido, enfumaçado e repelente, está parecendo agora o teto de uma sala real. [...]
[...]
A luz vai-se tornando cada vez mais forte. Ela fica insuportável para a vista. A virgem desaparece nela, como se estivesse sendo absorvida por um véu incandescente... e dele surge a mãe.
Sim. Quando a luz volta a ser suportável aos meus olhos, vejo Maria com o Filho recém-nascido nos braços. Um pequenino, todo róseo e gorducho, que agita os braços e esperneia. [...]
[...]
José se aproxima dela. E, ao ver, pára dominado por um sentimento de reverência, e está para cair de joelhos lá mesmo no lugar em que está. Mas Maria insiste dizendo: “Vem cá, José” e, firmando a mão esquerda sobre o feno, com a direita Ela segura apertado contra o seu coração o Menino. Levanta-se, então, indo ao encontro de José, que caminha tropegamente, embaraçado pelo contraste do seu desejo de aproximar-se e o temor de ser irreverente.
Aos pés do catre, os dois esposos se encontram e olham um para o outro, num só e feliz pranto.
- Vem, vamos oferecer Jesus ao Pai - diz Maria.
Enquanto José se ajoelha, Ela se põe de pé entre dois troncos que sustentam o teto, levanta o Filho em seus braços e diz:
- Eis-me aqui, Senhor. Por Ele, ó Deus, eu te digo esta palavra. Eis-me aqui para fazer a tua vontade. Com Ele estamos eu, Maria, e José, meu esposo. Eis-nos aqui, teus servos, Senhor! A tua vontade seja feita sempre por nós, em toda hora e em todos os acontecimentos, para a tua glória e pelo teu amor.
Depois Maria se inclina e diz:
- Toma-o, José - oferecendo-lhe o Menino.
- Eu? Tu o entregas a mim? Oh!, não! Eu não sou digno - José está completamente apavorado, e se sente aniquilado, só diante da idéia de ter que tocar em Deus.
Mas Maria insiste com ele, sorrindo:
- Tu és bem digno disso, sim. Ninguém mais do que tu. Por isso é que o Altíssimo te escolheu. Toma-o, José, e segura-o, enquanto eu vou buscar as roupinhas.
José, vermelho como escarlate, estende os braços e pega aquele embrulhinho de carne que está gritando de frio e, quando já está com Ele nos braços, não deixa mais levar pela vontade de tê-lo afastado do seu corpo pelo respeito, mas o aperta ao coração, dizendo numa grande explosão de pranto: - Ó Senhor! Ó meu Deus!
Ao inclinar-se para beijar-lhe os pezinhos, percebe que eles estão frios e, então, senta-se no chão e o põe em seu colo, procurando cobri-Lo com a veste marrom e as mãos, aquecendo-O e defendendo-O do vento frio da noite. [...] É melhor, aliás, ficar entre os animais, que servem de escudo contra o ar, e que produzem calor. [...]
Maria abriu o baú, tirando linhos e cueiros. Depois foi para perto do fogo, e aqueceu os panos. Vai então a José, envolvendo o Menino naqueles tecidos mornos e no seu véu para proteger-lhe a cabecinha.
- Onde vamos colocá-lo agora? - ela pergunta.
José está olhando ao redor, pensativo...
- Espera! - Diz ele - Vamos afastar um pouco os animais e o feno deles. Depois jogamos para baixo aquele feno que está no alto colocando-o aqui dentro. A madeira da beirada protegerá o Menino do ar frio, o feno lhe servirá de travesseiro, e o boi com seu hálito o aquecerá um pouco. [...] José põe mãos à obra, enquanto Maria nina o seu Menino, apertando-o ao coração [...].
[...]
- Está pronto! - diz ele [...]
[...] Assim, o primeiro leito do Salvador ficou pronto.
[VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002. v. 1, p.167-172] (grifei)
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A concepção sobrenatural de nosso Salvador seguiu-se de seu nascimento, igualmente sobrenatural. Eis como Ele nasceu. Eis a pureza de Maria, “a pureza, na sua expressão máxima”, a qual “tem um tal valor que torna o seio de uma criatura capaz de conter o que não podia ser contido” (Valtorta, ob. cit., v. 1, p. 11). Eis a humildade e a simplicidade de São José, necessárias para os que querem entender a grandiosidade desses fatos.
Fiquem com Deus!
Nos próximos artigos traremos as reflexões de Maria Santíssima sobre o nascimento do Messias, e o relato dos primeiros adoradores do Verbo feito homem: os pastores.
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