sábado, 21 de maio de 2011

Reencarnação e Purgatório

Reencarnação e Purgatório

            Ontem, no final da noite, assisti à parte final do Globo Repórter, a respeito do Butão, país asiático. Na oportunidade, vi um trecho onde a uma criancinha recém nascida (uma menina) é atribuída a reencarnação de um ladrão, e que a mesma, na vida adulta, iria tornar-se uma empresária muito ambiciosa.

          Diante de casos como esse, não é difícil imaginar como as doutrinas reencarnacionistas, ao admitirem pré-julgamentos desse nível, podem legitimar grandes injustiças, visto que, nos termos defendidos por seus adeptos, se aqui se sofre é porque se merece sofrer, em vista dos erros cometidos nas reencarnações passadas.

            Essas e outras contradições da doutrina espírita, e sua absoluta incompatibilidade com a doutrina católica – lembrando, os católicos são o público alvo deste artigo –, estão já muito bem pavimentadas em inúmeros documentos da Igreja. Há bons sítios recomendados neste blog que tratam do assunto, o que não nos impede de abordarmos o tema com nosso posicionamento pessoal, o que pretendemos fazer em breve.

            Por ora, transcrevo, abaixo, importante trecho que, coincidentemente, li hoje na obra de Maria Valtorta. Trata, justamente, de um diálogo entre Jesus e um escriba, onde o Mestre explica a inexistência da reencarnação e o papel do Purgatório na purificação da alma. Para contextualizar, vale lembrar que a tese espírita é no sentido de que tal purificação se daria mediante sucessivas reencarnações.

             Passemos, pois, diretamente, para o diálogo em evidência.

          O trecho abaixo é a continuação de um colóquio entre Jesus e um escriba cujo filho acabara de ser curado. Jesus o explica da necessidade de ressurgimento de Israel depois da “morte”. O trecho reproduzido começa com a afirmação do escriba:

[...]

“Israel, então, deve morrer? É uma planta má?”

“Deve morrer para ressurgir.”

“Uma reencarnação espiritual?”

“Uma evolução espiritual. Não há reencarnações de nenhuma espécie.”

“Há quem creia que há.”

“Eles estão errados.”

“O helenismo colocou entre nós também essas crenças. E os doutos se nutrem com elas, e se gloriam de serem elas um alimento muito nobre.”

“É uma contradição absurda naqueles que gritam o anátema para transcurar um dos seiscentos e treze preceitos menores.” [Aqui Jesus se reporta aos 613 mandamentos que, de acordo com o judaísmo, constam na Torá]

“É verdade. Mas... assim é. Gostam de imitar até o que odeiam.”

“Nesse caso, imitai a Mim, já que me odiais. Será melhor para vós.”

O escriba deve sorrir de um modo sutil, mesmo que não queira, por esta saída de Jesus. [...]

“Mas Tu, em confidência, que é que achas da reencarnação?”

“Que é um erro. Eu já o disse.”

“Há pessoas que dizem que os vivos são gerados pelos mortos, e os mortos pelos vivos, porque o que existe não se destrói.”

“O que não é eterno se destrói, de fato. Mas dize-me: no teu parecer, o Criador tem limites para Si mesmo?”

“Não, Mestre. Aceitar isso seria um rebaixamento.”

“Tu o disseste. E, então, poder-se-á pensar que Ele permita que um espírito se reencarne, porque mais do que os muitos espíritos que já existem não podem existir outros?”

“Não se deveria pensar assim. E, no entanto, há quem assim pense.”

“E, o que é pior, pensa-se assim em Israel. Esse pensamento da imortalidade do espírito, que já é um grande pensamento em um pagão, ainda mesmo quando ele está unido ao erro de uma avaliação injusta sobre como é que acontece essa imortalidade, em um israelita esse pensamento deveria ser perfeito. Mas, pelo contrário, em quem o admite, nos termos da tese pagã, torna-se um pensamento limitado, rebaixado, culpável. Já não é uma glória o pensamento, que se mostra como digno de admiração, por ter passado rente à Verdade por si só, e que por isso dá um testemunho da natureza composta do homem, como ela o é também no pagão, por essa sua intuição de uma vida perene desta coisa misteriosa, que tem o nome de alma, e que nos distingue dos brutos. Mas um rebaixamento do pensamento que, conhecendo a Divina Sabedoria e o Deus verdadeiro, torna-se materialista, até em coisa tão altamente espiritual. O espírito não transmigra, a não ser do Criador para o ser e do ser para o Criador, ao qual ele se apresenta depois da vida, para receber julgamento de vida ou de morte. Esta é a verdade. E, para onde for mandado, lá fica. Para sempre.

“Não admites o Purgatório?”

“Sim. Por que perguntas?”

“Porque Tu dizes. ‘Para onde for mandado, lá fica.’ O Purgatório é temporário.”

Exatamente. Eu o absorvo no meu pensamento da Vida Eterna. Pois o Purgatório já é ‘vida’. É verdade que é uma vida amortecida, ainda atada, mas sempre é vital. Terminada a temporária parada no Purgatório, o espírito conquista a Vida perfeita, a alcança, agora sem limites e sem nenhum outro vínculo. Duas são as coisas que permanecerão: O Céu e o Abismo; o Paraíso e o Inferno. Os Bem-aventurados e os condenados. Mas daqueles três reinos, que agora existem, nenhum espírito voltará a revestir-se de carne. E isso até o dia da ressurreição final, que encerrará para sempre a encarnação dos espíritos na carne, do imortal no mortal.

[...]

(VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002, v. 4, p. 317-318.) (Os grifos e destaques são meus)



            Devemos estar atentos para o fato de que a teoria espírita, ao professar a salvação/purificação da alma por sucessivas reencarnações, torna completamente vã a morte de Cristo por nós. Salvação é graça, é uma dádiva, conquistada por um alto preço, pelo derramamento do sangue do Filho de Deus na cruz.

            A passagem abaixo, sempre repetida pelo Pe. Rufus[1] nas suas pregações de cura e libertação, traz o alicerce principal da fé Cristã-Católica, que, numa leitura superficial, já revela a total incompatibilidade desta com as doutrinas reencarnacionistas:



E assim como Moisés levantou a serpente no deserto, é preciso que o Filho do Homem seja levantado, a fim de que todo aquele que crê tenha nele a vida eterna. Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; porque não crê no nome do Filho único de Deus (João 3, 14-18).

           

Já finalizando, transcrevo, abaixo, trecho do Catecismo da Igreja Católica acerca do tema “adivinhação e magia”, onde é abordada, embora de forma sintética, a questão do espiritismo e da evocação dos mortos:

ADIVINHAÇÃO E MAGIA

2115 Deus pode revelar o futuro a seus profetas ou a outros santos. Todavia, a atitude cristã correta consiste em entregar -se com confiança nas mãos da providência no que tange ao futuro, e em abandonar toda curiosidade doentia a este respeito. A imprevidência pode ser uma falta de responsabilidade.

2116 Todas as formas de adivinhação hão de ser rejeitadas: recurso a Satanás ou aos demônios,  evocação  dos  mortos  ou  outras  práticas  que  erroneamente  se  supõe  "descobrir"  o futuro. A consulta aos horóscopos, a astrologia, a quiromancia, a interpretação de presságios e da sorte, os fenômenos de visão, o recurso a médiuns escondem uma vontade de poder sobre o tempo,  sobre  a  história  e,  finalmente,  sobre  os  homens,  ao  mesmo  tempo  que  um  desejo  de ganhar para si os poderes ocultos. Essas práticas contradizem a honra e o respeito que, unidos ao amoroso temor, devemos exclusivamente a Deus
2117 Todas  as  práticas  de  magia  ou  de  feitiçaria  com  as  quais  a  pessoa  pretende domesticar  os  poderes  ocultos,  para  colocá-los  a  seu  serviço  e  obter  um  poder  sobrenatural sobre o próximo - mesmo que seja para proporcionar a este a saúde - são gravemente contrárias à  virtude  da  religião. Essas  práticas  são  ainda  mais  condenáveis  quando  acompanhadas  de uma intenção de prejudicar a outrem, ou quando recorrem ou não à intervenção dos demônios. O uso  de  amuletos também é repreensível. O espiritismo implica  freqüentemente práticas de adivinhação  ou  de  magia.  Por  isso  a  Igreja  adverte  os  fiéis  a  evitá-lo.  O  recurso  aos  assim chamados remédios tradicionais não legitima nem a invocação dos poderes maléficos nem a exploração da credulidade alheia.
            (grifos e destaques nossos)
           

            Vale lembrar que as bases teóricas acima sintetizadas no Catecismo advém da unânime contribuição dos pensamentos dos Santos, dos doutores da Igreja, dos Concílios e da Tradição Católica

            Que Deus abençoe a todos!


            Francisco José


[1] Sacerdote de Bombaim, Índia, presidente da Associação Internacional para o Ministério de Libertação e vice-presidente da Associação Internacional de Exorcistas.

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