Hoje, dia em que celebramos Nossa Senhora de Fátima, apresento uma reflexão a respeito do Primeiro Mandamento da Lei de Deus e um trecho da obra de Maria Valtorta onde ela descreve em detalhes a Assunção de Nossa Senhora.
Que Nossa Senhora de Fátima proteja nossas famílias!
Francisco José
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Qual o primeiro mandamento da Lei de Deus? Normalmente, a resposta a esta pergunta se resume a um simples “amar a Deus sobre todas as coisas”, não se dando conta a maioria das pessoas de que referido mandamento é bem mais amplo: “amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento” (Dt, 6,5; Lc, 10, 27). E a determinação Divina enseja uma lógica bastante transparente: para que amemos a Deus com tamanha intensidade é necessário que busquemos o “[...] entendimento” a respeito de Deus, pois ninguém ama a quem não conhece.
Para nós, pobres pecadores, é muito difícil, dificílimo até, cumprirmos com o primeiro mandamento da Lei de Deus. Mas Deus, na sua infinita misericórdia, nos trata com a paciência de um perfeito Professor, que nos transmite seus ensinamentos de forma muito suave, para que o discernimento sobre as Coisas do Alto nos leve a amarmos a Deus da forma como Ele deseja que o façamos. E a história do Povo de Deus nos revela exatamente isso. Antigamente, a remissão dos pecados se dava através do derramamento do sangue de um cordeiro sem defeito (Ex, 12). Muito tempo depois (cerca de 2.000 anos), o Cordeiro de Deus é imolado como o SACRIFÍCIO PERFEITO, capaz de remir todos os nossos pecados, bastando que, para isso, tomemos o Corpo e o Sangue de Cristo que se derrama por nós todos os dias na Santa Eucaristia. Essa transição à perfeição da Revelação se deu de forma paulatina (demorou 2.000 anos), a fim de que pudéssemos ter o pleno entendimento de Deus, de Seu amor para conosco, necessários para que nós também O conheçamos e, assim, O amemos com todas as nossas forças.
Mas a Misericórdia Divina não parou por aí. Continuamente, Deus, como Pai zeloso, reacende nossa fé através do Espírito Santo e de revelações sobrenaturais onde, em muitas delas, Maria Santíssima tem uma participação muito especial (citem-se, por exemplo, as aparições Marianas em Lourdes, em Fátima e em Guadalupe, já reconhecidas como autênticas até por protestantes, em 1982, através do Manifesto de Dresden[1]). Uma das revelações mais fantásticas ocorreu em meados do século 20, a Maria Valtorta[2], a quem Jesus revelou em detalhes nunca vistos toda a sua vida, desde a Imaculada Conceição de Maria até a Assunção de Nossa Senhora[3].
Reproduzimos, abaixo, as partes principais da Assunção de Maria, testemunhada unicamente por S. João, Apóstolo e Evangelista, e reproduzida no 10º volume da obra O Evangelho como me foi revelado, de Maria Valtorta.
A ASSUNÇÃO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA
Visão da Maria Valtorta – 08/12/1951 (Data da visão)
Quantos dias se passaram? É difícil precisar. Se alguém julgasse pelas flores que formam a coroa em volta do corpo inerte, diria que se passaram apenas algumas horas. Porém se julgasse pelos ramos de oliveira sobre os quais as flores repousam, os ramos com as folhas já secas e por outras flores secas caídas como relíquias sobre a cobertura do esquife, poderia se concluir que alguns dias se passaram.
Porém o corpo de Maria é exatamente o mesmo como se tivesse acabado de dar o último suspiro. Não há traço de morte na Sua face ou nas Suas pequeninas mãos. Não há nenhum odor desagradável no quarto. Ao contrário, um aroma indefinível como incenso, lírio, rosa, lírios do vale, ou ervas da montanha, se misturam e estão suspensos no ar[4].
João, que não se sabe por quantos dias se manteve acordado, caiu no sono, vencido pelo cansaço, sentado num banquinho, seus ombros recostados à parede próxima a uma porta aberta que dá para o terraço. A luz da lamparina, que, do chão, ilumina-o, permite ver a sua face cansada, e também muito pálida, exceto a sombra avermelhada ao redor dos seus olhos, de tanto chorar.
[...]
De repente, uma luz intensa enche o quarto, uma luz prateada com contorno azulado, quase fosfórica, se torna cada vez mais forte, fazendo desaparecer a aurora e a lamparina. Uma luz como aquela que inundou a Gruta em Belém, no momento da divina Natividade. Então, nesta luz paradisíaca, criaturas angelicais surgem, ainda mais brilhante, na luz já intensa que inundou o quarto. Como já acontecera quando os anjos apareceram para os pastores, uma dança de clarões de todas as matizes saem das suas asas e se movem suavemente, emitindo murmúrios harmoniosos, tão doces como se fossem tocados por uma harpa.
As criaturas angelicais se posicionam em volta da pequena cama, se curvam diante dela, levantam o corpo imóvel e, batendo as asas mais vigorosamente, acentuando o som já existente, abrem uma passagem milagrosamente no teto, como abrira milagrosamente o Sepulcro de Jesus, e se elevam, levando o corpo da sua Rainha, o Santíssimo Corpo, é verdade, porém, ainda não glorificado, e, portanto, sujeito às leis da matéria, para as quais Cristo não era sujeito, pois Ele já estava glorificado quando ressuscitou dos mortos. O som produzido pelas asas angelicais aumenta, e agora é tão potente quanto o som de um órgão.
João, que, embora ainda adormecido, moveu-se duas ou três vezes sobre o seu banco, como se tivesse sido perturbado pela luz forte e pelo som das asas angelicais, desperta completamente por causa do som poderoso, e, também, por causa da forte corrente de ar que, descendo da abertura do teto e atravessando a porta aberta, forma um turbilhão que agita a colcha da cama, agora vazia, e a vestimenta de João, apagando a lamparina e fechando a porta com uma batida forte.
O Apóstolo olha em volta, ainda meio sonolento, para reparar o que está acontecendo. Nota que a cama está vazia e que o teto está aberto. Entende que um acontecimento maravilhoso teve lugar. Sai para o terraço, e, como pelo instinto espiritual, ou por uma chamada celestial, levanta a sua cabeça, fazendo sombra com as mãos sobre os olhos, evitando o sol, a fim de ver, sem no entanto ser impedido de olhar para o sol nascente.
E ele vê. Vê o corpo de Maria, ainda sem vida, como que adormecido, ascendendo cada vez mais alto, sustentado pelo grupo angelical. Como último gesto de adeus, as bainhas da manta e do véu são agitadas, provavelmente pelo vento causado pela rápida assunção e pelo movimento das asas angelicais; e algumas flores, aquelas que João colocou e renovou em volta do corpo de Maria, e que com certeza permaneceram entre as dobras do seu vestido, chovem sobre o terraço e sobre o chão do Getsêmani, enquanto a hosana potente do grupo angelical se move cada vez mais longe e se torna tênue.
João continua a fitar aquele corpo que se eleva em direção ao Céu e, através, certamente, de um prodígio concedido a ele por Deus, para confortá-lo e compensá-lo por seu amor à sua Mãe adotiva, vê distintamente Maria, envolta agora pelos raios do sol já bem alto, aparecer da êxtase que separou a Sua alma do Seu corpo, e ressuscitar, colocar-se em pé, à medida que agora goza também dos dons típicos dos corpos já glorificados.
João olha e vê. O milagre concedido a ele por Deus permite-lhe, contra todas as leis naturais, ver Maria como Ela é agora, enquanto ascende rapidamente ao Céu, cercada, porém agora não mais auxiliada pelos anjos que cantam hosanas. E João está extasiado pela visão da beleza que nenhuma pena do homem, a palavra humana, ou trabalho de artista poderá ser capaz de descrever ou reproduzir, porque é de uma beleza indescritível.
João, ainda recostado contra a parede baixa do terraço, continua a fitar aquela forma brilhante e esplêndida de Deus - porque Maria pode realmente ser dita assim, formada de uma maneira única por Deus, Que desejou-A imaculada, para que Ela pudesse formar o Verbo Encarnado - enquanto ascende cada vez mais alto. E Deus-Amor permite-lhe um último prodígio supremo para o Seu perfeito discípulo amoroso: ver o encontro da Mãe Santíssima com o Seu Filho Santíssimo, Que também esplêndido e reluzente, indescritivelmente belo, desce rapidamente do Céu, alcança a Sua Mãe, aperta-A no Seu coração e, juntos, mais brilhantes que dois astros do céu, dirigem-Se ao Céu de onde Ele veio.
A visão de João terminou. Ele abaixa a sua cabeça. Sobre a sua face cansada, estão visíveis tanto a sua dor da perda de Maria quanto a sua alegria pelo Seu glorioso destino. Porém, agora a alegria excede a dor.
Ele exclama: “[...] Obrigado por tudo isto, ó Deus. E obrigado por terdes feito tudo isto para que eu veja, mesmo para uma criatura santíssima, todavia ainda humana, aquilo que cabe aos santos, aquilo que acontecerá após o último julgamento, a ressurreição do corpo, a sua reincorporação, sua fusão com o seu espírito, que ascende ao Céu no momento da sua morte. [...] Porém muitos duvidarão disto, após eras e milhares de anos, e a carne, que se tornará pó, é permitido tornar-se um corpo vivo. Serei capaz de dizer-lhes, jurando pelas coisas mais sublimes, que não apenas Cristo ressuscitou, pelo seu próprio poder divino, assim também a Sua Mãe, três dias após a Sua morte, se de morte isto pode ser chamado, ressuscitou, e com a Sua carne juntando-se à Sua alma, elevou-Se para a abóbada eterna do Céu, ao lado do Seu Filho. Serei capaz de dizer: “Creiam, ó Cristãos, nos corpos ressuscitados, no fim do tempo, e na vida eterna de almas e corpos, uma vida bem-aventurada de santos, e terrível para as pessoas culpadas, impiedosas e sem arrependimento. Creiam e vivam como santos, como viveram Jesus e Maria, a fim de adquirir o que Eles obtiveram. Vi Seus corpos ascenderem ao Céu. Posso testemunhá-los. Vivam como justos, para que um dia possam estar no mundo eterno, em corpo e alma, próximo ao Sol-Jesus, e Maria a Estrela de todas as estrelas.” [...]
Disse Jesus:
“[...] Maria passou para o outro lado submersa nas ondas do amor. E agora, no Céu, tornou-se um oceano de amor, e transborda, sobre os filhos que lhe são fiéis, suas ondas de caridade para a salvação universal de todos os homens”.
“[...] Ela, a minha mãe, é a vencedora do dragão maldito. Ajudai ao poder dela, dedicando-lhe um renovado amor, e, com fé também renovada, e procurando conhecer tudo o que a Ela se refere. Foi Maria que deu ao mundo o Salvador. E o mundo ainda terá por meio dela a Salvação.” [1] Revista Luterana “Spiritus Domini”, nº 05, maio de 1982 – Citada na internet em inúmeros sites (basta fazer a busca por “Manifesto de Dresden”)
[2] Este blog tem um artigo específico sobre Maria Valtorta.
[3] VALTORTA, Maria. O Evangelho como me foi revelado. Isola del Liri - Itália: Centro Editoriale Valtortiano, 2002, v. 10, p. 485-490.
[4] Depois da revelação da Assunção de Maria, Jesus explicou para Maria Valtorta que sua Mãe não havia morrido, mas entrado num estágio de contemplação extática: “Enquanto a separação da alma do corpo causa a verdadeira morte, a contemplação extática, isto é, a temporária evasão do espírito para fora das barreiras dos sentidos e da matéria, ainda não provoca a morte, mas o faz somente com sua parte melhor, que se imerge nos fogos da contemplação” (ob. cit. p. 497).
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